A Balada de Harley Quinn

A Balada de Harley Quinn: Acho que todos se lembram da sensação, no começo da década de 90, de chegar em casa depois da aula e assistir Batman – The Animated Series. Criado por Paul Dini e Bruce Timm, o desenho mostrava um Cavaleiro das Trevas facilmente identificável em suas principais características, usava e abusava da farta galeria de vilões do herói e manteve um nível de qualidade absurdo – que seguiu em Superman – The Animated Series, Justice League e Justice League Unlimited, Batman Beyond, Super Choque e Projeto Zeta. Todos mantinham uma regularidade que…

Peraí.

QUEM é essa ajudante do Coringa?!

“Sou eu, abestado!”

A Arlequina, esse ícone das cosplayers que conhecemos hoje, surgiu humildemente nos desenhos animados. Sua estreia foi no episódio “Um Favor para o Coringa”, de setembro de 1992. A dubladora da personagem, Arleen Sorkin, com uma extensa carreira como atriz de séries e filmes para a televisão, não fez feio ao lado do gigante Mark Hammil e sua interpretação histriônica do Palhaço Criminoso. E foi com muita calma que os roteiristas desenvolveram a Arlequina, ao perceber o carinho do público por ela, até finalmente revelarem sua origem!

E não é que a simpática palhacinha ganhou uma origem à altura da clássica galeria de vilões do Homem Morcego?

Se deixar, ganhar até o emprego do Robin

Outrora a estudante de Psicologia Harleen Quinzel, ela não era lá muito brilhante mas, usando bem mais do que seu talento acadêmico, conseguiu uma vaga como estagiária no famigerado Asilo Arkham para Criminosos Insanos! E foi naquele inferno de pedras e aço que nossa simpática aspirante a psiquiatra ficou encantada com o mais notório criminoso de Gotham! Sim, acho que Alice Cooper estava certo: “o amor faz a gente fazer coisas engraçadas”! Somente em um gibi (ou um desenho animado) pra uma estagiária conseguir acompanhar de perto um notório assassino em massa. Tudo que Quinzel queria era entrar na cabeça de seu paciente, escrever um livro, se tornar famosa e nunca mais precisar trabalhar de verdade… Mas o Coringa tinha algo de… Cativante. E não é que o palhaço usou todo seu poder de sedução pra roubar o coração da loirinha!?

E ela roubou o nosso…

Obviamente, tudo era um plano do Coringa pra conseguir fugir do Arkham. Enxergando seu relacionamento com o palhaço de forma totalmente romantizada, Quinzel fez tudo que estava ao seu alcance pra garantir que ele conseguisse fugir do Arkham. Descoberta, não lhe restava outra alternativa a não ser esperar que seu louco amor viesse resgatá-la!

O problema é que o Coringa não tava nem aí pra ela. Ele não pensa em ninguém a não ser nele mesmo. Ela teria ficado esperando pro resto da vida enquanto o Coringa cuidava de sua única e verdadeira obsessão: o Batman! Eventualmente, os caminhos dos dois voltavam a se cruzar – fosse dentro das paredes frias do Arkham ou nas ruas escuras de Gotham, Harleen adotou a identidade de “Harley Quinn”, uma brincadeira com o som da palavra “arlequina” e passou a ajudar o Coringa em seus crimes!

Nasceu pra brilhar

A Arlequina não parou de fazer sucesso, chegando até mesmo a estrelar episódios espetaculares como “Harley e Hera”, uma homenagem ao road movie “Thelma e Louise”; “A Folga da Arlequina”, em que ela termina de cumprir sua pena e tenta se regenerar (com tudo dando errado); “Arlequinada”, em que Batman a tira do Arkham para ajudá-lo a encontrar o Coringa e, de quebra, entendemos um pouco melhor o relacionamento dos dois (Batman pergunta o que ela viu no Coringa, afinal, e ela responde que ele era o único que a ouvia quando ela era psiquiatra e tinha que ouvir todos os outros); e, finalmente, “Louco Amor”, em que toda sua origem é contada, bem como a natureza de seu relacionamento abusivo é explorada de uma maneira bastante madura e explícita pra um desenho animado.

Assim, não demorou para os fãs pedirem que ela fosse integrada ao universo dos gibis! A DC especulou, pensou, analisou… Esse tipo de decisão leva tempo. Questões de direitos e pagamento de royalties são muito delicadas e devem ser feitas com parcimônia. Mas o bem venceu: a Arlequina passou a fazer parte do universo do Batman nos gibis em Batman: Harley Quinn #1, lançada em 1999. Ali, no meio da saga Terremoto, que quase destruiu Gotham definitivamente, a origem que vimos no desenho foi adaptada para os gibis – com pouquíssimas mudanças, como a participação maior de Hera Venenosa na história. O roteiro ficou por conta do próprio Paul Dini, que manda muito bem na caracterização não só de sua criação, mas de todo universo DC!

Daí pra frente foi só sucesso

Desde então, ela estrelou sua própria revista mensal, apareceu como vilã na série de TV Birds of Prey [VAI TER TEXTO DESSA BOSTA? INSERIR LINK AQUI], teve papel decisivo nos gibis que adaptam a história do videogame Injustice – Gods Among Us e, claro, apareceu ao lado de seu pudinzinho nos videogames da série Arkham.

A partir de Novos 52, no entanto, a Arlequina começou a ser retratada muito mais como uma anti-heroína do que uma vilã. Ela passou a figurar praticamente como integrante fixa do Esquadrão Suicida, e sua relação com o Coringa terminou com nossa palhacinha farta dos abusos e humilhações, servindo de exemplo de empoderamento para muitas mulheres.

E alguns homens também.

O filme do Esquadrão Suicida, no entanto, representou um retrocesso por mostrar Arlequina ainda jovem e excessivamente apegada ao Coringa, incapaz de deixá-lo para trás, por pior que seja tratada. Como se não bastasse, o filme foi um fracasso, duramente criticado pela sua direção desencontrada, vilão que ninguém se importa, situações forçadas, trilha sonora desconexa e um caminhão de outros fatores.

Mas olha… Margot Robbie.

Chupa, Will Smith!

A simpática atriz australiana encarnou perfeitamente o espírito da Arlequina, esbanjou carisma e personalidade, ajudou a alavancar a popularidade da personagem e se tornou uma das figuras mais icônicas do universo DC nos cinemas! Quem diria, hein!? Ainda não tivemos uma continuação direta para “Homem de Aço”, “Liga da Justiça” naufragou, nem sinal do filme do Flash, Batman foi rebootado e a interpretação de Robbie como Arlequina é uma das poucas coisas que vão sobreviver ao reboot/relaunch de Esquadrão Suicida – nem mesmo o Coringa de Jared Leto sobrou pra contar a história.

Mas antes desse reboot, dois grandes anúncios fizeram a alegria dos fãs da palhacinha (de modo bem geral, o pessoal que não a conhece dos gibis e nem da animação original do Batman, mas da própria popsfera, ou seja, de como seu visual ultrapassou as barreiras da mídia que lhe deu origem e fez dela um sucesso): o filme Birds of Prey, onde ela finalmente rompe com o Coringa e se mete em mil e uma confusões com Caçadora, Canário Negro, René Montoya e Cassandra Cain, e a sua própria série animada. Isso mesmo! De coadjuvante a protagonista, a animação Harley Quinn abusa da meta-linguagem e de uma maturidade pretensiosa (palavrões e insinuações sexuais) pra tentar manter o interesse desse público no personagem. Não muito bem aceita por quem a conheceu lááááá nos anos 90, a animação serve pra provar a força da Arlequina e a popularidade de personagens com transtornos psicológicos (a exemplo de Coringa, Deadpool e Nicolas Cage). E se você ainda tiver dúvida de que isso é só o começo, a Arlequina se prontifica a ir pessoalmente chutar o seu traseiro – ou te dar de comida pras hienas.

Não a deixem pistola!
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Raul Kuk o Mago Supremo

Raul Kuk - o Mago Supremo. Pai de uma Khaleesi, tutor de uma bruxa em corpo de gata.

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