Brave New World – os 20 Anos do Renascimento do Maiden!

Brave New World – os 20 Anos do Renascimento do Maiden: Já se vão 20 anos!? É mais do que a primeira passagem de Bruce Dickinson pelo Maiden (1981-93), mas quase não aconteceu.

“Eu não queria voltar”, ele declarou em sua autobiografia “Pra que serve esse botão?”, de 2017. Com uma carreira solo finalmente “acontecendo”, graças às parcerias com o antigo companheiro de Maiden Adrian Smith e o guitarrista/produtor Roy Z, Dickinson não precisava provar mais nada pra ninguém. Seus álbuns solo vinham numa escalada impressionante (“Accident of Birth”, de 1997 e “The Chemical Wedding”, de 1998). Ainda que não fosse mais capaz de lotar estádios, tinha feito as pazes com seu passado e estava feliz com suas conquistas.

Você sabe que chegou no topo quando vira Lego!

O Maiden, por outro lado, não queria Dickinson de volta. Insatisfeitos com Blaze Bayley, as vendas vinham descendo a ladeira: “The X Factor”, de 1995, conseguiu bastante repercussão na mídia. Já “Virtual XI”, de 1998, foi duramente afetado pela popularização do Napster, péssima produção, capa feia, composições pouco inspiradas e um desempenho ao vivo que deixava muito a desejar. Steve Harris, fundador da banda, não é o tipo de pessoa que volta atrás em suas decisões: a banda se mantem na ativa desde 1975 graças a sua visão. Não faz concessões, não se rende a necessidades de mercado, não se compromete. Mas a encruzilhada em que se viu em 1999 o fez cogitar o movimento mais seguro, que era chamar Dickinson de volta. Claro, sem abrir mão de seu orgulho: “Eu nunca quis que ele saísse. Eu não o expulsei. Nada mais natural que chamá-lo de volta”.

Felizmente, os astros se alinharam e, com Smith a tiracolo, Dickinson se reuniu com seus antigos companheiros de banda para a turnê de uma coletânea baseada em um jogo, o Ed Hunter. As músicas, escolhidas pelos fãs em votação na internet, trouxe de volta alguns clássicos há muito esquecidos, como “Wasted Years”, “Killers” e “Phantom of the Opera”, e outros que Bayley jamais seria capaz de cantar, como “Aces High” e “Run to the Hills”. A turnê foi o aquecimento que precisavam para lançar um dos discos mais marcantes da carreira da banda e entrar no novo milênio por cima, lotando estádios e à frente dos maiores festivais do mundo, como o Rock in Rio, onde tocaram em 2001.

Como nos velhos tempos.

“Brave New World”, o álbum, é cheio de momentos grandiosos. Tem lá também seus “tapa na cara”, com músicas rápidas e diretas. A capa, uma co-criação do lendário mala-sem-alça Derek Riggs com o artista digital Steve Stone, traz a referência do título, o romance “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley. A maioria das músicas foi escrita ainda durante a turnê Ed Hunter (três delas, inclusive, seriam sobreviventes das sessões de gravação do “Virtual XI”: “The Nomad”, “Dream of Mirrors”, e “The Mercenary”). A produção de Kevin Shirly (com a ajuda de Harris) ajudou a deixar o som pesado e cristalino, com a parede de três guitarras perfeitamente audível. Melhor ainda, a banda gravou “ao vivo em estúdio” pela primeira vez, conseguindo uma energia única, explorando ao máximo a química entre os três guitarristas! Era um corajoso novo capítulo da história do Iron Maiden, uma virada de página sem igual na carreira da banda, mas que não apenas fazia jus ao seu passado como também dava um vislumbre do que veríamos pela frente.

Brave New World – os 20 Anos do Renascimento do Maiden!: O disco abre com “The Wicker Man”, da maneira que todos esperavam: um riff cortante de Smith antes de a banda entrar, preparando o caminho para os vocais de Dickinson. A música, parcialmente inspirada no filme “O Homem de Palha”, de 1973 (que ganhou um remake com Nicolas Cage em 2006), foi escrita em parceria pelos dois velhos companheiros e Steve Harris. A sensação de ver os nomes dos três dividindo os créditos de uma canção novamente nos levou imediatamente aos bons tempos de “Seventh Son of a Seventh Son”, um disco que flertava com o progressivo e do qual “Brave New World” é um primo distante. Mas “Wicker Man” é áspera, sem firulas e cheia de energia. A sequência é com “Ghost of the Navigator”, que muita gente achou tratar-se de uma “continuação” da clássica “Rime of the Ancient Mariner” – mas a música, uma parceria entre Dickinson, Harris e Janick Gers, tem seus próprios fantasmas, um clima cadenciado e muitas variações de tempo.

Chegamos à faixa-título, a épica “Brave New World”, dessa vez uma colaboração entre Harris, Dickinson e Dave Murray. O clima dessa canção levanta qualquer plateia! A sequência é com “Blood Brothers”, uma viagem introspectiva de Steve Harris sobre a morte de seu pai. Poucas pessoas conseguem transmitir tanta emoção em uma música, e Harris começou a trabalhar nessa três anos antes, esperando até que ela captasse o sentimento exato para ser gravada!

Continuamos o álbum com uma dobradinha escrita pela dupla Gers e Harris: “The Mercenary”, uma porrada típica do Maiden, e “Dream of Mirrors”, onde a banda volta a flertar com o progressivo em mais de nove minutos de variações rítmicas, explorando ao máximo as possibilidades da nova formação! Em seguida, Smith e Harris esfregam “The Fallen Angel” na cara dos haters, com uma performance espetacular de Dickinson! Essa música, sem sombra de dúvida, merecia mais oportunidades ao vivo! Em “The Nomad”, o guitarrista Dave Murray volta a participar do processo de composição, ao lado de Harris, entregando mais uma faixa épica desse grande álbum.

Pra finalizar, Gers, Dickinson e Harris unem forças novamente na espetacular “Out of the Silent Planet”, uma música que, sem sombra de dúvida, deveria figurar no repertório da banda até hoje! O álbum fecha com outro épico, “The Thin Line Between Love and Hate”, mostrando que a nova formação do Maiden veio pra ficar – e tem muito ainda a apresentar aos fãs de heavy metal no mundo todo.

O disco foi muito bem recebido pelos fãs e até mesmo a crítica especializada se rendeu ao talento do grupo. “Brave New World” foi certificado como “disco de ouro” no Brasil, Canadá, Finlândia, Alemanha, Grécia, Polônia, Espanha, Suécia e Reino Unido. Foi o disco mais vendido da Suécia no seu lançamento, o segundo da Finlândia e o terceiro na Alemanha e na Itália. Os singles “The Wicker Man” e “Out of the Silent Planet” também performaram muito bem, mostrando que a banda ainda possuía muito apelo comercial mesmo em tempos de mp3 e torrents. Essa popularidade culminou com a gravação do DVD ao vivo no festival Rock in Rio, um belo presente aos fãs brasileiros.

O disco acabou sendo um revigorante novo começo para a banda, com músicas que são executadas ao vivo até hoje e com um lugar especial no coração dos fãs. Ainda que ele tenha sido superado, musical e comercialmente, nos anos que se seguiram, ele segue sendo lembrado como um dos pontos altos da carreira do Maiden – o que é particularmente emblemático se pensarmos que já são dezesseis álbuns de estúdio ao longo de mais 40 anos! E se o papel do (a partir de então) sexteto ainda é questionado na cena musical atual, de modismos e popularidade medida por curtidas, basta lembrar que… a sombra do Homem de Palha se erguerá novamente!

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Raul Kuk o Mago Supremo

Raul Kuk - o Mago Supremo. Pai de uma Khaleesi, tutor de uma bruxa em corpo de gata.

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