Chernobyl e o preço de uma mentira
Qual o preço da mentira? Qual o valor que perdemos a cada vez que faltamos com a verdade? Não só como indivíduos, mas com as pessoas que nos cercam? Nossos colegas, amigos e parentes? E quando o peso de uma mentira é tão grande que pode afetar uma nação? E quando as consequências da falta com a verdade aumentam com o tempo? Pois quando o tempo é fundamental para corrigir ou amenizar aquele erro, cada vez que tentamos varrer os fatos para debaixo do tapete, mais e mais pessoas, afetadas pelo problema, perdem a chance de serem devidamente auxiliadas, pois a mentira cega a todos, e a ausência da luz da verdade impede tanto a quem precisa de ajuda, quanto a quem quer auxiliar.
Essa é a premissa de Chernobyl, Minissérie da HBO. Uma premissa tão bem trabalhada que deixa o espectador, após os seus cinco capítulos dessa maravilhosa minissérie, a filosofar sobre a natureza humana do engano. Não é apenas a falha humana que é desenvolvida na minissérie, são as falhas de todo um sistema, um sistema político burocrático, engessado, decadente, que em menos de uma década veria o fim lúgubre da ex poderosa União soviética.
Chernobyl tem muitas virtudes, que vão desde a ambientação primorosa, os diálogos e roteiro estupendos, frases que ficarão para a história, “Apenas 3.6 Roentgen, equivalente a um raio x, nem bom, nem terrível”. Ou a negação da verdade no “Você não viu grafite porque não há grafite”. Além da poderosa frase do Legasov no capítulo final da minissérie “como um reator rbmk explode? Com mentiras! Mentiras!” Frases que ficam, que mexem com o espectador. Frases que fazem pensar e sair da zona de conforto.
Os atores são um caso a parte. Jared Harris (Valery Legasov), Stellan Skarsgård (Boris Shcherbina) fazem os papéis de suas vidas, Harris como o cientista altruísta, que prioriza o bem da população e tenta lutar contra um sistema em prol de amenizar o máximo os efeitos da radioatividade e Stellan como um político de carreira, que, no início relutante a trabalhar com Legasov, passa a se dedicar ao máximo para conter a situação.
São personagens baseados em pessoas reais, claro que fatos foram romanceados e adaptados, houve muitos outros cientistas que trabalharam com Legasov, mas o tempo de uma minissérie impediria desenvolver a todos. A personagem Ulana Khomyuk, personagem de Emily Watson, foi desenvolvida como um amálgama, homenagem a todos aqueles que trabalharam incessantemente para conter os efeitos do desastre.
Mas muito do que se viu, existiu e aconteceu. Scherbina morreu em decorrência da exposição a radiação e Legasov suicidou-se após 2 anos da tragédia, deixando gravações contando os segredos que o estado soviético queria abafar. Um suicídio por causa das mentiras e verdades abafadas, de um homem isolado de seus pares pela nação que tentou ajudar. Pois na vida, às vezes, somos punidos por fazer o certo, por seguirmos um ideal de integridade. Isso, basicamente, é a minissérie Chernobyl.
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