Diamond e a Fidelidade das Comic Shops
Diamond e a Fidelidade das Comic Shops: A Diamond recentemente divulgou um plano de normalização da distribuição das publicações das principais editoras americanas. Portanto, a partir do dia 27 de maio, as comic shops começarão a receber as revistas da DC, Marvel, Image e etc.
O verdadeiro questionamento a se fazer é: se a Diamond estava paralisando a distribuição de quadrinhos por causa do COVID19 (coronavirus), por que retomar em 27 de maio, quando a quarentena ainda está em vigor? E, principalmente, sendo os Estados Unidos um dos países mais afetados pelo contágio, que tem resultado em tantas mortes.
A pergunta pode não ter uma resposta simples como imaginamos, mas talvez a mídia não tenha divulgado tanto algumas informações como deveria. Ou pelo menos ter dado destaque a alguns dados. Por exemplo, assim que a Diamond notificou a paralisação da distribuição a partir de 1º de abril, ela emitiu um novo comunicado informando que não pagaria as editoras. Segue um trecho do comunicado que o Bleeding Cool divulgou em seu site:
“Enquanto trabalhamos para entender o cenário atual do setor, infelizmente a verdade é que não estamos mais recebendo pagamentos consistentes de nossos clientes. Isso exige que, no momento, retenhamos os pagamentos para os fornecedores que estavam previamente agendados esta semana. Esta é uma decisão difícil e não uma que tomamos de ânimo leve. À medida que essa situação evolui, estamos comprometidos em elaborar um plano de pagamento e teremos mais informações para compartilhar no final desta semana. Agradecemos sua paciência e compreensão durante esses tempos difíceis. ”
Fica claro que a Diamond não estava simplesmente pausando a distribuição, mas como ela não tinha como sustentar os processos que a própria empresa estipulou. Mas porque isso aconteceu? Será que a Diamond estava tomando “calote” das lojas?
Em declarações divulgadas no Bleeding Cool, que tem servido de porta-voz da classe, muitos lojistas informaram que preferiam esperar a Diamond normalizar a distribuição, porque confiavam na empresa de Steve Geppi e eles também eram como um banco para eles.
Veja um trecho de um varejista americano bem conhecido, Brian Hibbs da Comix Experience de San Francisco, em meio a muitas reclamações sem sentido contra os novos distribuidores da DC Comics, defendendo a Diamond:
“A DC está nos pedindo para ABANDONAR a Diamond. Eles alegam que ‘cancelaram todos os pedidos’ (embora, honestamente, eles podem fazer isso?), e que temos que comprar da Midtown e da DCBS. A Diamond e Steve Geppi agiram especificamente como o ‘banco’ do mercado direto, salvando e protegendo a grande massa de varejistas repetidas vezes.”
Dê uma ênfase no “A Diamond e Steve Geppi agiram especificamente como o ‘banco’ do mercado direto”, e isso trata de nada mais e nada menos que uma fidelização forçada e disfarçada de mão amiga. Onde cria aliados forjados em ajuda mútua financeira. Seria semelhante ao caso da Globo e os clubes de futebol no Brasil no que tange os direitos de transmissão. Da mesma forma que a emissora adiantava pagamentos de anos posteriores e isso fidelizava os clubes à rede de TV dos Marinho, o relacionamento da Diamond com algumas comic shops era bem semelhante.
Em uma longa entrevista no canal do youtube do Comic Book, o dono da Diamond esclareceu muitos pontos e inclusive deu margem para interpretar outros. Num ambiente amigável e condescendente de outros varejistas que o apoiaram durante as decisões de paralisar a distribuição de quadrinhos, ele se sentiu confortável em abrir alguns assuntos importantes. Se quiser assistir a divertida e extensa entrevista pode clicar aqui.
Geppi conversou sobre os novos planos de distribuição das publicações das editoras, dos problemas relacionados a pandemia do novo coronavirus e também sobre a recente concorrência que a DC Comics ajudou a criar para que os lojistas que permaneceram abertos durante a quarentena tivessem acesso aos lançamentos. Em um dos pontos Steve disse que falou com o editor da DC Jim Lee algumas semanas atrás (antes da DC Comics optar por seguir com novas distribuidoras), que lhe informou que isso estava por vir (e enfatizou o quanto ele gostava de Lee.) “Como qualquer editor, você deseja divulgar seu produto. Você não quer perder sua audiência.”
Geppi fez uso de uma analogia sugerindo “Meu concorrente é meu aliado” envolvendo uma loja de sapatos em um shopping. “20 lojas de calçados podem competir pelos clientes, mas depois podem se unir para mudar as coisas no shopping. Eles encontram um terreno comum – é isso que a indústria de quadrinhos precisa fazer. Nós já passamos por isso antes – tantas vezes eles declararam a sentença de morte dos quadrinhos, que isso se tornou uma piada agora.”
Político e polido, qualidades extremamente necessárias em um momento de crise como este, Geppi informou que a Diamond conseguiu um empréstimo e agora tem crédito suficiente para seguir com suas operações. O verdadeiro ponto nisso tudo é que a DC rompeu com uma exclusividade de distribuição de 25 anos e a Diamond removeu a condição de Premium da editora de Burbank, mas ambos seguem trabalhando.
A verdade que num sistema capitalista você não ter um mercado aberto para concorrentes, é um pecado. Uma concorrência saudável cria processos melhores e com qualidade cada vez maior. Por exemplo muito tem se elogiado a Lunar pelo excelente trabalho de distribuição dos comics em suas primeiras semanas de contrato com a DC. O Bleendig Cool relatou que os varejistas que receberam as encomendas eram só elogios, principalmente no empacotamento e cuidado para que as publicações chegassem inteiras e sem problemas, em uma crítica direta de como as publicações chegavam pela Diamond. Com isso a própria Lunar informou que outras editoras (menos a Marvel) estão em conversação para usar os serviços da empresa. Se os novos distribuidores serão bem-sucedido só o tempo para validar, mas quem lucra certamente é o cliente leitor de quadrinhos com tudo isso.
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