Dois pesos e duas medidas: Quando a crítica aceita a violência nos filmes?
Dois pesos e duas medidas: Quando a crítica aceita a violência nos filmes: Ao longo dos três primeiros filmes da franquia, 306 pessoas são mortas.
A impressionante média de 102 mortes por filmes – e isso para as mortes confirmadas, em que o protagonista efetivamente as causa e ela fica evidente na tela, não se tratando apenas de “ferimentos graves” – parece banalizar a violência. Nos primeiros minutos de cada filme, ela é impactante, dolorosa – indesejada, até. Ao longo da película, se torna cada vez mais corriqueira, ao ponto de mal as notarmos. Só quando o “final boss” é morto que temos a inevitável sensação de termos sido “vingados”, tão imersos ficamos – tanto na busca do protagonista por vingança quanto no banho de sangue que vemos em tela.
Estou falando da franquia John Wick. O slogan escolhido para o terceiro filme, “toda ação tem uma consequência”, exprime bem a ideia da busca do protagonista, primeiro por vingança e depois pela própria sobrevivência. Mas, curiosamente, ele passou à margem de todo o debate e imune às críticas.
“Rambo: Até o Fim“, no entanto, chegou aos cinemas cercado de controvérsia. O protagonista, dessa vez, luta para salvar uma garota, a quem ajudou a criar quase como uma filha, de um cartel de traficantes de escravas brancas e prostituição. Em tempos de politicamente correto, chega a ser estranho o filme tocar em um assunto tão delicado, mostrar esse crime tão sujo e hediondo como ele é, e não receber a consideração de que o protagonista está do lado certo. O questionamento sobre a violência no filme – de que ela seria “gratuita”, “desproporcional”, “explícita demais”, “abusiva”, é válido. Sempre.
Mas por que John Wick passou ileso por ela, sendo que ele luta apenas… por si mesmo?
A Empire chamou “Rambo 5” de um “aborto úmido” – a mesma revista chamou “John Wick” de “violência artística”; o The Guardian chamou o filme de Stallone de “carnificina selvagem e barata”, enquanto o de Reeves recebeu o adjetivo “aventura eletrizante”. Ainda não entendi no que eles diferem.
Parece haver uma tolerância muito grande com o astro Keanu Reeves e má vontade com o fato do personagem de Sylvester Stallone enfrentar estrangeiros – algo recorrente na franquia Rambo, desde o segundo filme. Ambos são personagens que são muito bons no que fazem – matar – mas não querem mais fazer, relutam e enxergam a si mesmos como monstros. Pior ainda, quando parecem ter um mínimo de paz, ela lhes é tirada.
Talvez a franquia John Wick ainda precise do teste do tempo para ser vista com olhar mais crítico, algo que Rambo não está imune – mesmo chegando ao seu quinto filme. O debate sobre a violência parece ter sido relegado ao modelo “imperialista” do militar John Rambo, que enfrenta estrangeiros – alinhado, assim, com as opiniões do presidente Donald Trump, o “alvo da vez”. Algo comum em Hollywood, haja visto que todo filme atende a interesses – “Top Gun“, por exemplo, estrelado por Tom Cruise, foi co-financiado pela Força Aérea Americana e as salas que o exibiram nos Estados Unidos em 1986 também ostentavam cartazes de alistamento militar. Keanu Reeves, sempre o bom-moço, nos lembra do melhor que a humanidade tem a oferecer, mesmo que seu personagem seja uma monstruosa máquina de matar. Talvez todo o viés e preconceito esteja nos olhos de quem vê, e o público, tão “politizado”, tenha se tornado incapaz de apreciar os filmes pelo que eles se propõem. Talvez a geração atual não passe no teste do tempo, no final das contas.
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