Dossiê Legião dos Super-Heróis

Tudo que Você Precisa Saber sobre a Equipe Futurista da DC

1. A ORIGEM
Dossiê Legião dos Super-Heróis: A Legião surgiu como um grupo de coadjuvantes do Superboy em ADVENTURE COMICS #247 (1958), criados pelo roteirista Otto Binder e o artista Al Plastino. Nas suas seis décadas de existência, a equipe foi reformulada várias vezes, mas o básico da sua origem sempre se manteve: três adolescentes super-poderosos do século 30 (ou 31) salvam de um atentado o bilionário R.J.Brande, que os motiva a formar uma equipe de jovens justiceiros inspirados no legado dos heróis dos milênio anterior, em especial no Superboy. Já a versão atual escrita por Brian Bendis chacoalha bastante as coisas: R.J.Brande é uma mulher que preside os Planetas Unidos, e apesar de ser a responsável pela reunião do trio legionário, é uma antagonista da Legião.

2. OS LEGIONÁRIOS
A tríade principal da equipe é formada por: Satúrnia (Imra Ardeen, telepata), Relâmpago (Garth Ranzz, poderes elétricos) e Cósmico (Rokk Krinn, controle do magnetismo). Mas estamos falando da Legião, a equipe heróica dos quadrinhos com mais integrantes simultâneos. São quase uma centena de personagens, e por isso o editorial da DC passou a inserir anos atrás uma ficha de identificação ao lado de cada legionário nos quadros das histórias, contendo nome e poderes, para ambientar rapidamente os leitores. O atual roteirista da equipe, Brian Bendis, está reapresentando os heróis clássicos da equipe com alterações pontuais, o que é uma boa oportunidade para conhecê-los.

3. OS VILÕES DA EQUIPE
Os principais inimigos da Legião são o Mestre do Tempo (que assumiu várias identidades diferentes durante os anos), a Legião dos Super-Vilões (porque toda equipe da DC precisa de sua versão maligna espelhada), o Quinteto Fatal (uma joint venture de inimigos da equipe: Imperatriz Esmeralda, Persuasor, Thalok, Validus e Mano), Universo (um ex-lanterna verde com pretensões ditatoriais), Mordru (feiticeiro maligno de um planeta composto apenas de magos), Superboy Prime (um Superboy corrompido moralmente por anos de isolamento após a Crise nas Infinitas Terras) e até mesmo Darkseid. Mas a equipe já se viu obrigada a combater a própria versão futurista da ONU a quem a Legião serve (os Planetas Unidos).

4. JUVENTUDE DO FUTURO

A Legião é a primeira equipe de heróis formada por adolescentes. É mais antiga que a própria Liga da Justiça, que só estreou anos depois como uma releitura da Sociedade da Justiça. Nas suas primeiras aventuras com o Superboy, a equipe era o retrato de uma fraternidade americana, com trotes, camaradagem e atividades programadas. Na fase Jim Shooter/Mike Grell, este último redefiniu os uniformes da equipe para uma pegada mais sensual e com pernas e decotes à mostra, tal como a juventude da época se portava. Já a celebrada fase oitentista de Jim Shooter/Keith Giffen mostra a equipe como jovens adultos responsáveis e com vestimentas mais sóbrias.

5. LEGADO HERÓICO DO SUPERMAN
A Legião é inspirada no legado heróico do século 20 e 21, em especial no Superboy (na época o Superman quando jovem). O visual original da equipe é uma tentativa de misturar o visual colante e capa dos heróis do milênio anterior com uma pegada do que era a percepção de roupas futuristas na época. A Legião tinha sua sede na Terra futurista, mas suas aventuras se passavam não só na Via Láctea, protetorado dos Planetas Unidos, mas nos mais longínquos recônditos da galáxia. Graças à tecnologia de viagem no tempo, é comum vermos Superman, Superboy, Supergirl e quase toda a família Super nas histórias da equipe.

6. VIAGENS NO TEMPO

Uma equipe com aventuras no futuro numa editora de universo compartilhado é um desafio para os editores e para as vendas. O sentimento de relevância (“essa história vale?”) vem do quanto esses personagens do futuro estão relacionados aos personagens das revistas mensais situadas no presente. Por isso a Legião sempre teve a tecnologia de viagem no tempo, para poder interagir com Superman, Supergirl e Superboy, de forma a ter relevância na cronologia presente da editora sem alterar o futuro drasticamente. Inclusive um dos heróis mais queridos da DC, Gladiador Dourado, se utiliza dessa tecnologia e de um anel de vôo da Legião para chegar ao presente do universo DC e tentar uma nova vida.

7. CIÊNCIA VERSUS MAGIA

A Legião surgiu durante a popularização da ficção científica, e logo abraçou a iconografia de metrópoles com carros voadores, viagens interplanetárias e toda a visão cinquentista do que seria a sociedade do futuro. Na Legião o inventor de plantão da equipe é Brainiac 5. É dele a idéia do famoso anel de vôo, que também funciona como distintivo do integrante, comunicador remoto e até mesmo viagens no tempo. Com tantos elementos científicos nas histórias, nada mais natural do que fazer do seu equivalente oposto (a magia) um dos grandes inimigos da Legião. Vários dos vilões da equipe se equiparam em poder com os legionários usando as artes mágicas, como Mordru, o que ecoa a lendária vulnerabilidade do Superman à magia.

8. PROCESSO DE ADMISSÃO

Uma das grandes piadas internas da Legião sempre foi o sistema de admissão na equipe. Inspirado no processo das fraternidades das universidades americanas, a premissa era de que 1) o poder do candidato deveria vir de nascença, não fabricado ou fruto de uma tecnologia, e 2) o poder não poderia ser repetido em relação a outros integrantes da Legião. Esse processo seletivo causou grandes problemas para a equipe, com vários dos candidatos rejeitados formando a Legião dos Super-Vilões. Outros candidatos rejeitados viriam a formar a Legião dos Heróis Substitutos, que queriam provar que podiam ser parte desse legado heróico por si ou até mesmo parte da Legião.

9. NORMAS DE CONDUTA

A Legião desde cedo criou uma constituição interna, que previa a rotatividade na liderança da equipe, eleições diretas  e inclusive uma proibição ao casamento entre legionários. Isso gerou sérios problemas quando Garth Ranzz (Relâmpago) e Imra Arden (Satúrnia), dois componentes da tríade original da Legião, se apaixonam. Eles se vêem obrigados a pedir desligamento da Legião para consumar o casamento, e suas ausências levam posteriormente a uma mudança nas regras da equipe.

10. MORTES

Quadrinhos são uma mídia em que a morte é apenas uma grande porta giratória. No passado, quando o formato clássico era de uma história fechada por edição, a morte era uma ferramenta de roteiro usada dia sim dia também. Várias mortes duravam 3 ou 4 páginas, apenas para serem reveladas como falsas no final. No passado, a Legião inovou ao matar definitivamente um de seus integrantes, Ferro. Hoje em dia, com todas as editoras montando megaeventos com mortes feitas para durarem 3 anos no máximo, a coragem dos escritores da Legião ainda se sobressai. O corpo do herói está enterrado no satélite-cemitério Shanghalla (mistura das lendárias habitações pós-vida Shangrilá e Valhalla), o que mantém a morte do personagem como uma das mais emblemáticas dos quadrinhos DC.

11. SÓCIO-POLÍTICA DO FUTURO

O futuro da Legião é quase sempre abordado como uma versão melhorada do nosso presente. Nas histórias os conflitos políticos não são mais apenas entre países da Terra, mas entre planetas. Aí entra a versão cósmica das Nações Unidas, os Planetas Unidos (PU), onde líderes de cada planeta podem resolver suas questões diplomaticamente e evitar guerras e desastres ambientais. A versão atual de Brian Bendis para os Planetas Unidos foi idealizada por Jon Kent (Superboy, o filho do Superman) e fundada no presente do UDC, ainda existindo no futuro da Legião. O braço policial dos PU é a Polícia Científica, com destacamentos em cada planeta da galáxia e integrantes de cada planeta. Os integrantes da Legião costumam ser agentes autorizados da PC. A comunicação interplanetária acontece graças à definição de um idioma comum, o Interlac. Os caracteres nesse idioma futurista Decenauta são constantemente vistos nas histórias da Legião, e inclusive nos logos de alguns personagens (como do Transmutador

12. ESCALA INTERPLANETÁRIA

A Terra é a sede dos Planetas Unidos e também da Legião. A primeira sede da equipe foi uma nave de ponta cabeça fincada numa localidade da Metrópolis do futuro. Com o tempo a equipe ganhou um quartel-general menos surreal e mais prático. A Legião tem em suas fileiras integrantes dos mais variados planetas, como Braal (onde todos tem poderes magnéticos), Durla (onde todos são transmorfos), Daxam (cujos habitantes ganham os mesmos poderes do Superman se expostos ao sol amarelo), entre outros. Um dos planetas inimigos da Legião é a Khúndia, que possui um plano de dominação intergalática. Outras duas localidades importantes na sociedade do século 30 e 31 são Shanghalla (um satélite-cemitério criado para heróis mortos em combate) e o Labirinto (planeta-prisão que usa uma tecnologia que mantém os presos mortos e prontos para serem revividos em caso de necessidade ou de cumprimento de pena). Na atual fase da equipe, a Terra foi danificada profundamente e os nichos de vida que restaram foram colocados em redomas, formando a Nova Terra. Há também um planeta chamado Gotham, que não tem nada da loucura e escuridão da cidade original do século 21.

13. MULTICULTURALISMO

A Legião surge no fim dos anos 50, numa editora associada ao mainstream conservador do período. Ou seja, não havia qualquer personagem negro participando da equipe, fruto da visão de mundo de boa parte dos criadores de conteúdo da época. A Legião é o retrato de uma abordagem típica de mídia da época, focada em pessoas brancas, mas sua abordagem multicultural dos aliens na equipe a torna um exemplo inicial de multiculturalismo nos quadrinhos. A Legião reunia um transmorfo laranja (Camaleão), um telepata verde (Brainiac 5), uma mulher azul de cabelos crespos (Penumbra), e um integrante nada magro (Saltador). Com o passar dos anos, a equipe se tornou ainda mais plural, com mais heróis vindos de planetas diferentes.

14. ABORDAGENS DA NEGRITUDE

Os editores da Legião nos anos 70 decidiram enfim explicar o motivo da equipe ter apenas integrantes brancos, e escolheu a pior idéia possível: todos os negros do futuro morariam numa ilha-colônia separatista chamada Marzal. O herói de Marzal é Tyroc, raivoso e rancoroso como um Malcolm X. O desenhista Mike Grell, que anos antes tentou inserir heróis negros na equipe de forma natural e saudável (sem permissão do editorial) considerou a idéia tão racista e absurda que decidiu avacalhar a iniciativa, tornando o visual de Tyroc repulsivo. Daí a mistura de “Elvis Presley em Las Vegas com cafetão de rua”, nas palavras do próprio artista. No fim da história a Legião salva Marzal e recebe de volta o repúdio de Tyroc e outros, que reclamam que nunca pediram ajuda externa. A representatividade negra só começaria de forma saudável anos depois, quando o herói negro Rapaz Invisível II (Jacques Foucart) passa a integrar a equipe.

15. INCLUSÃO E REPRESENTATIVIDADE MODERNA

O atual escritor da Legião, Brian Bendis, é conhecido por valorizar a representatividade em seus quadrinhos. Durante seu tempo na Marvel ele criou novos heróis negros (Miles Morales e Riri Williams) e comandou a polêmica mudança de orientação sexual de um X-Men antes mulherengo (Homem de Gelo). Ao se transferir para a DC, Bendis não age diferente: transforma o ruivo Relâmpago (Garth Ranzz) num jovem negro, e os antes magros e malhados Digestor e Lobo Cinzento em brucutus  “plus size”. A iniciativa dividiu os fãs, em boa parte por culpa do planejamento confuso do editorial da DC, já que a nova formação da equipe foi anunciada inicialmente com Garth como um branco ruivo. Só no meio da produção das histórias preparatórias para a nova mensal é que decidem mudá-lo para a etnia negra. O ápice da confusão foi um recall de edições das revistas SUPERMAN e SUPERGIRL junto aos revendedores americanos. Motivo: a colorização da história não deixava claro o contraste entre um Superman branco e um Garth Ranzz negro. Temendo uma acusação de whitewashing, a editora abraçou o prejuízo e corrigiu as cores dos personagens.

16. CRISE NAS INFINITAS LEGIÕES

Após a Crise nas Infinitas Terras a DC se propôs a reiniciar todas as suas séries, bem como sua cronologia. Mas esse desejo esbarrava em dois sucessos de público e crítica: NEW TEEN TITANS  e LEGION OF SUPER-HEROES. A editora abre então uma exceção para os dois títulos, mantendo tudo como estava apenas nesses dois. Isso gerou o grande problema da fase Five Years Later (Cinco Anos Depois), um salto cronológico que repaginava as histórias da Legião sem apagar o que veio antes. Essas novas histórias não foram unanimidade entre os fãs, e com o tempo a DC quis finalmente dar uma abordagem zerada para a equipe após a saga Zero Hora. É aí que começam as complicações cronológicas, no primeiro reboot na equipe, criando uma Legião mais adolescente do que os jovens adultos da fase aclamada pré-Crise. Pouco a pouco a equipe perde seu status de queridinha do público jovem, que escolhe outras franquias para seguir. Tom McCraw e o casal Bierbaum são alguns dos criadores lembrados pelos fãs por essa fase, quase nunca com saudades.

17. REMENDOS EDITORIAIS

Dos anos 2000 em diante vieram novas tentativas de recomeçar a franquia, pelas mãos da dupla DnA (Dan Abnett e Andy Lanning) e posteriormente por Mark Waid, ambas sem sucesso.  A fase Waid ainda sofreu com o “fogo amigo” do editorial, que autorizou Geoff Johns a trazer de volta a versão oitentista da equipe em suas histórias sem sequer conversar com o então roteirista da Legião. Os fãs já não sabiam mais qual das 3 versões da equipe valia: a Legião Original (anos 50 a 80, com a retomada de Johns nos anos 2000), a Legião Reboot (anos 90), ou a Legião Threeboot (fim dos anos 2000).  É quando o próprio Geoff Johns escreve a minissérie Legion of Three Worlds, usando sua habilidade de costureiro cronológico para colocar as três versões da equipe para lutarem juntas contra a ameaça do Superboy Prime/Mestre do Tempo. Quando a equipe enfim caminhava para uma sequência de anos mais consistentes a editora reseta toda a sua cronologia após a minissérie Flashpoint, reiniciando a Legião mais uma vez, mas agora sob o cabide dos Novos 52. Após 5 anos dessa nova cronologia controversa, a DC aplica um soft reboot chamado Rebirth que retoma conceitos e abordagens clássicas dos personagens. É aqui que nos encontramos, com Brian Bendis escalado para criar uma Legião que tenha ecos da equipe clássica, mas ao mesmo tempo com o frescor dos novos tempos.

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