Evento Leviatã #1!
Evento Leviatã #1: A DC já tem uma longa tradição em histórias de espionagem e conspirações, envolvendo agências do governo e grupos paramilitares de meta-humanos. Houve até mesmo o crossover Conspiração Janus (sobre o qual falamos aqui), que apresentou o Esquadrão Suicida, Xeque-Mate, Capitão Átomo, Pacificador e o Caçador (Mark Shaw), entre outros, numa trama digna dos melhores filmes. Quando o escritor Brian Michael Bendis pulou o muro e debandou para a DC Comics, ele levava consigo o know-how de já ter desenvolvido suas próprias tramas conspiratórias na Marvel.
Este mês chegou às bancas Evento Leviatã #1, pela editora Panini, a primeira incursão de Bendis pelo universo de espionagem da editora, e também seu primeiro crossover editorial. A edição, maravilhosamente ilustrada pelo seu antigo companheiro Alex Maleev, não é o crossover no sentido de alcançar diversos títulos, com um sem-número de tie-ins – na verdade, é uma trama bem fechada, que “puxa” os personagens da editora pra dentro dela.
Temos Batman, Arqueiro Verde, Questão, Homem Borracha, Capuz Vermelho, Justiceira e Robin investigando a misteriosa conspiração que deu fim a diversas agências de inteligência. A história, que foi sendo construída nas páginas de Action Comics, não é centrada no Superman: o que temos aqui é Lois Lane sob os holofotes, sendo retratada como uma das personagens mais importantes do Universo DC, uma jornalista excepcionalmente acima da média e arguta investigadora – lado a lado com os maiores detetives da editora.
Do outro lado, o misterioso Leviatã, que já derrubou as principais agências de espionagem – literalmente. Explodindo prédios inteiros para criar uma nova ordem mundial, Leviatã não está, efetivamente, matando pessoas. Está preparando o tabuleiro. Quem é Leviatã e o que ele quer são as grandes perguntas do gibi que, a despeito de algumas cenas de ação, foca muito mais na tensão e no fato de que não há pistas. Voltado para os personagens, o Evento Leviatã é uma grande oportunidade para Bendis mostrar seu conhecimento da cronologia e das engrenagens do Universo DC – e fazer o que quiser com elas.
Se os fãs queriam ver como Bendis ia lidar com os heróis mais urbanos da DC, ele não decepciona (apesar de ainda termos muito pouco do Questão). O Arqueiro Verde cai como uma luva para o estilo verborrágico do autor e Batman aparece mais falante e “jogador de equipe” do que a versão extremamente pau-no-cu e sisuda de Tom King. É um Cavaleiro das Trevas falível, ciente de suas limitações e que conta com ajuda dos demais heróis para solucionar o mistério, não descartando ninguém.
Também digno de nota o tratamento que Bendis dá a Steve Trevor, Sam Lane e, principalmente, Amanda Waller – uma personagem que parece ter sido feita sob medida para alguém que escreveu Nick Fury e Maria Hill tão bem. Nessa edição ela teve uma participação pequena, mas é fundamental para a trama entender seu papel e o alcance de sua influência. Se a Lois Lane é a mulher mais sagaz do mundo, Waller é a mais perigosa. É nessas condições, isolada, perseguida e sem recursos, que ela mostrará quem realmente é.
A arte de Maleev segue espetacular, encaixando muito bem com o clima da história. Talvez ele fosse minha última escolha para desenhar um herói “solar” como o Superman mas, como disse antes, essa história não é dele. Seu Homem Borracha, menos caricato mas ainda expressivo é um ponto alto inesperado. Seu Capuz Vermelho é espetacular e Lois Lane parece brilhar entre os detetives.
Se o gibi tem um ponto negativo é que, em alguns momentos, a ausência do Superman não parece corretamente retratada. Os heróis vão para sua nova Fortaleza da Solidão, no Triângulo das Bermudas, como se fosse apenas um checkpoint em um jogo de videogame, com acesso garantido até para figuras misteriosas como a Justiceira – claro, Batman confia nela, mas isso basta pra entrar na fortaleza do Superman? Robin pode acionar Kelex quando quer? Amanda Waller escondeu uma escuta ali?
Não podemos deixar passar em branco o vacilo da Panini que, na contracapa, lista os personagens participantes da história como: Batman e Superman, Arqueiro Verde, Caçadora, Homem Borracha, Questão Vic Sage, Robin e Capuz Vermelho. A Caçadora aí, claro, não é Helena Bertinelli, que não participa dessa história: trata-se da personagem Manhunter, que tinha sido originalmente chamada no Brasil de Justiceira. Quando eu vi o nome “Caçadora” na contracapa, achei interessante porque manteria a ligação com o Manhunter Mark Shaw – que citei lá em cima, na Conspiração Janus.
Criada por Marc Andreyko e Jesus Saiz em 2004, essa Manhunter é, na verdade, a promotora Kate Spencer, que resolveu fazer justiça com as próprias mãos, cansada de ver tantos criminosos ficando impunes. Porém, no miolo do gibi, a Panini esqueceu que a chamou de Caçadora antes e ela refere-se a si mesma como Justiceira! Confira:
Nada que tire o peso dessa história, uma conspiração contra um inimigo desconhecido, de planos vagos e intenções enigmáticas. Bendis está muito à vontade no seu pequeno canto da DC, se divertindo bastante e entregando uma excelente história, fruto de estudo e preparo. Mais do que isso, a parceria com o velho amigo Maleev mostra o quanto ele respeita os personagens e a mitologia, querendo entregar um trabalho competente e sendo muito bem-sucedido.
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