Grandes Sagas do Cinema: A Hora do Pesadelo!
Ah, os anos 80! A verdadeira Era de Prata do cinema de horror! Depois dos monstros da Universal, que assombraram os anos 30 e 40, sendo revitalizados pela Hammer nos anos 60, e de verdadeiros clássicos que vieram depois, como “O Bebê de Rosemary”, “O Exorcista” e “A Profecia”, tivemos aí meio século de pesadelos!
Mas o maior de todos os pesadelos ficou para os anos 80! Foi quando os slasher movies se tornaram extremamente populares entre os jovens: assassinos seriais brutais, matando quase aleatoriamente, com muito sangue e criatividade. Esse é justamente meu argumento aqui: enquanto Mike Myers e Jason Voorhes eram monstros (quase) humanos, pelo menos em seus primeiros filmes, surgiu uma franquia com um toque a mais de sadismo. Você só poderia ser morto se dormisse!
A Hora do Pesadelo (“A Nightmare on Elm Street”) foi (é) uma franquia que se estendeu por nove filmes, livros, gibis, séries de TV e jogos, calcada no carisma de seu horripilante protagonista: Freddy Krueger. Eu era criança nos anos 80 e era muito popular a lenda urbana de que Robert Englund, o ator que interpretava Freddy, realmente tinha o rosto coberto com as cicatrizes que se viam no filme. Devo admitir que faz falta um pouco dessa ingenuidade da época pré-internet, onde um simples boato ganhava força e nada podia impedi-lo. Mas os tempos são outros, vivemos numa era de informação à velocidade do pensamento e, então, nada melhor do que trazer um pouco de luz para esta clássica franquia do cinema, revisitando todos os filmes da série!
“One, two, Freddy is coming for you…”
“Eu tinha pesadelos quando era criança. Uma noite, pedi para minha mãe entrar comigo nos meus sonhos para manter o bicho-papão afastado. Ela respondeu que o sonho era o único lugar no qual todos nós precisávamos ir sozinhos” – assim conta o lendário diretor Wes Craven, responsável por dar vida a Freddy no primeiro filme da franquia, em 1984 (ele também co-escreveu o terceiro filme e voltou à direção em “New Nightmare”). O estúdio responsável por transformar o pesadelo em realidade foi a New Line Cinema, uma pequena companhia que virou uma gigante da indústria – graças à franquia Hora do Pesadelo. Seu baixo orçamento e retorno astronômico permitiu que o estúdio lucrasse muito, produzindo, anos mais tarde, filmes do porte de “Senhor dos Anéis”.
O primeiro filme, além de Englund, contava com Heather Langerkamp, John Saxon e um estreante Johnny Depp. A história gira em torno de um grupo de adolescentes que moram na mesma rua (a rua Elm do título original), na pacata cidadezinha de Springwood, Ohio. Aos poucos, seus sonhos vão sendo invadidos por uma figura misteriosa, um assassino com o rosto horrivelmente desfigurado por queimaduras e uma luva de couro com lâminas. A ideia, segundo Craven, veio de uma série de reportagens sobre refugiados de guerras e genocídios no Laos, Cambodja e Vietnã, que sofriam pesadelos perturbadores e se recusavam a dormir – alguns desses homens chegaram a morrer durante o sono!
Já a inspiração para Freddy veio da juventude de Craven, quando ele viu, pela janela de casa, um velho sinistro caminhando pela calçada. O velho parou, encarou Craven e seguiu seu caminho. Parece bobagem, mas a experiência deve ter sido bem aterrorizante para o jovem, já que até o levou para o cinema. Inicialmente, ele pensou em fazer de Freddy um molestador de crianças, mas ficou com receio de ser acusado de tentar lucrar em cima de casos que estavam realmente acontecendo na California na época e foram amplamente divulgados pela imprensa – mas vamos voltar a isso mais tarde. O nome veio de um antigo colega de escola que pegava no pé de Craven (o agora chamado bullying), enquanto o suéter colorido foi baseado no personagem da DC Comics, o Homem Borracha (essa não é a única ligação de Craven com os quadrinhos da DC, já que ele também produziu o filme “Monstro do Pântano”). As cores do suéter, vermelho e verde, foram escolhidas após ler um artigo sobre o impacto dessas cores na retina humana.
Os toques finais foram o rosto – Craven não queria que ele usasse uma máscara, como tantos assassinos do cinema na época, mas tivesse uma aparência que fosse além do rosto do ator. Aí ele teve a ideia de fazer o rosto desfigurado por queimaduras; e, finalmente, as garras na luva. Já que tantos monstros do cinema estavam usando facas, foices, machados e facões, ele quis algo mais original, que refletisse a maldade de Krueger e que ajudasse a definir sua personalidade e história.
“Three, four, better lock your door…”
O roteiro foi rejeitado muitas vezes – Craven chegou a emoldurar a carta de rejeição da Universal – até ser aceito pela New Line. A New Line, até então, apenas distribuía os filmes e produzir um era um movimento bastante ousado para eles. Eles chegaram a ficar sem dinheiro durante as filmagens e o elenco e equipe técnica não foram pagos por duas semanas. Hoje, a New Line é conhecida como “a casa que Freddy construiu”.
Dezenas de atores foram cogitados para o papel principal. Até mesmo Kane Hodder, que mais tarde faria alguns filmes como Jason Voorhes, entrou na lista do diretor. Robert Englund era tudo que Craven não queria: não era alto, não era jovem, não era forte. Mas ele tinha algumas qualidades que convenceram o diretor: era ágil, não se importava de ser o vilão para jovens e até mesmo crianças, se divertia com o papel e entendeu Freddy Krueger muito bem.
Heather Langenkamp também encontrou bastante concorrência para ficar com o papel de Nancy. Segundo os rumores, até mesmo Demi Moore e Courtney Cox fizeram testes. Ela já era conhecida da responsável pela seleção, Anette Benson, tendo feito outros testes para filmes em que ela trabalhou, sem sucesso. Por fim, um jovem Johnny Depp foi para o estúdio apenas acompanhando um amigo, e acabou tomando o papel dele. Esse amigo era Jackie Earle Haley, que entra na história mais tarde.
“Five, six, grab your crucifix…”
A cronologia dos filmes da franquia é muito divertida. Vamos a eles:
A Nightmare on Elm Street (1984) – quatro adolescentes, morando na rua Elm em Springwood, começam a ser perseguidos em seus sonhos por uma figura sádica e enigmática. Com o rosto coberto por queimaduras, um chapéu e uma luva com garras, o maníaco os manipula quando estão mais vulneráveis, usando seus próprios medos contra eles. E, quando ele finalmente os mata nos sonhos, eles morrem no “mundo real”.
Uma das adolescentes é Nancy e ela logo descobre quem é aquele homem misterioso. Anos antes, um maníaco atraía crianças e as matava: Freddy Krueger. Ele foi preso mas uma tecnicalidade jurídica garantiu que fosse colocado em liberdade. Muitos pais das crianças que ele espreitou resolveram tomar a justiça nas próprias mãos, indo até o seu covil e ateando fogo no local. Freddy queimou até a morte, mas esse não foi seu fim.
Ao perceber que Krueger se alimenta dos medos durante os sonhos, Nancy consegue derrotá-lo, deixando-o sem poderes e fazendo-o desaparecer… para sempre?
A Nightmare on Elm Street 2: Freddy’s Revenge (1985) – após se mudar para a casa onde Nancy morou, o adolescente Jesse Walsh passa a ter estranhos pesadelos… Freddy está de volta, tentando transformá-lo num assassino e, assim, voltar livremente para o nosso mundo, trazendo o terror consigo. Mesmo sem ter coragem para enfrentar Freddy, o amor acaba libertando Jesse e destruindo o monstro… para sempre?
O ponto fraco desse filme é não ter a participação criativa de Wes Craven. Assim, o foco se perde e Freddy não está tão ligado aos sonhos, mas sim a eventos de natureza mais sobrenatural, como possessão e telecinese, além de Freddy aparecendo do nada numa festa na piscina (sem que ninguém ali estivesse sonhando). O filme teve orçamento baixo e excelente bilheteria, mas se afastou da essência do personagem.
A Nightmare on Elm Street 3: Dream Warriors (1987) – Wes Craven está de volta como roteirista e trouxe consigo Heather Langenkamp no papel de Nancy! Dessa vez, é a adolescente Kristen Parker que é atormentada pelo pesadelo recorrente em que um homem misterioso, com o rosto queimado, tenta matá-la. Mas quem é ele? Levada a um hospital psiquiátrico, ela recebe ajuda de Nancy Thompson, uma veterana no assunto Freddy Krueger. Ela tenta ajudar um grupo de adolescentes que vem sendo atormentado pelo monstro a se defender e lutar.
Nesse filme, descobrimos a origem de Freddy: ele é filho de uma jovem freira, que foi trancada por engano em uma instituição para criminosos insanos por meses. Continuamente violentada, ela deu à luz uma criança, fruto de centenas de estupros, filho de centenas de psicopatas.
A Nightmare on Elm Street 4: The Dream Master (1988) – conhecido como “o Pesadelo da MTV”, seja pela sua trilha sonora, seja pela citação à emissora. Após a morte de Nancy, Kristen teme que Freddy possa retornar – o que de fato acontece! Freddy busca novas vítimas para continuar a matança, mas Kristen aprendeu a usar os sonhos para enfrentar o monstro, nos dando algumas batalhas não muito criativas, já acenando o desgaste da fórmula.
A Nightmare on Elm Street 5: The Dream Child (1989) – o filme mais sombrio da franquia até então, seja no tom, seja nos temas. Freddy usa os sonhos de um bebê para tentar voltar ao “nosso mundo” – vai ser preciso alguém do passado de Freddy para detê-lo! O filme fracassou junto à público e crítica. Não é pra menos.
Freddy’s Dead: The Final Nightmare (1991) – as coisas continuam desandando, com Freddy “absorvendo” suas vítimas. Ainda conta com algumas mortes bem criativas e efeitos especiais divertidíssimos, além referenciar o início da saga, com uma aparição do tipo “piscou-perdeu” de Johnny Depp e o lendário cantor Alice Cooper como o padrasto de Freddy (curiosidade: hoje, Depp toca guitarra na banda Hollywood Vampires, junto com Alice Cooper!) Aqui descobrimos que Freddy teve uma filha, ela está viva e pode ser a chave para que o monstro retorne!
Vale lembrar que este filme também teve sequências inteira em 3D, mostrando muito pioneirismo. Chupa, Avatar!
Wes Craven’s New Nightmare (1994) – uma aposta ousada de Wes Craven, se revelou um dos filmes mais divertidos da franquia e um dos mais criativos do gênero! Tem seus altos e baixos, como criança sendo responsável por deter o vilão, mas ok.
Aqui, os atores do filme original, em particular Heather Langenkamp, John Saxon e Robert Englund, além do diretor Wes Craven e os produtores Robert Shaye e Sara Risher, são atormentados por pesadelos com o personagem de um filme em que trabalharam juntos dez anos antes… Freddy Krueger!
Será possível que o monstro realmente existe? Estaria Wes Craven alimentando sua força com os roteiros que escrevia? Como ele pode ser detido?
Aqui Freddy aparece com um visual aprimorado. Ao invés das queimaduras e o visual de carne derretida, temos músculos e tendões, uma roupa com cores mais vivas e muito, mas MUITO MAIS crueldade. O filme tem lá suas derrapadas (se você acha o Jake Loyd, que fez Anakin Skywalker em A Ameaça Fantasma ruim, espere só até ver o guri deste filme), mas não tem vergonha de reverenciar o gênero nem sua própria cronologia. Toda a sequência da morte da babá no hospital é primorosa, apresentando essa versão mais sádica de Freddy com efeitos fantásticos.
Freddy vs. Jason (2003) – Levaria quase outra década para Englund voltar ao papel, mas dessa vez seria realizando os sonhos (e pesadelos) de milhões de fãs: enfrentando Jason Voorhes, o assassino da franquia “Sexta-Feira 13”!
Existe uma teoria de fãs muito boa e muito complexa sobre como todas as grandes franquias de terror (Pesadelo, SF13, Halloween, Massacre da Serra Elétrica, Chucky, Hellraiser, entre outros) se passam no mesmo universo. Ela é tão válida quanto a teoria da cronologia Pixar, ou seja: aceita quem quer. Um dos pontos cruciais da teoria é o momento em Jason Goes to Hell (1993) que mostra a mão enluvada de Freddy saindo do inferno para agarrar a máscara de Jason e arrastá-la consigo. Levou dez anos para que o encontro se concretizasse, mas aqui está ele!
Freddy precisa ser temido para ter força, mas ninguém lembra dele na rua Elm. Preso no inferno, ele encontra outro monstro e pode libertá-lo para que ele aterrorize adolescentes – com sorte, as pessoas vão associar os crimes com Freddy Krueger! Assim ele voltará a ter poder suficiente para cometer seus próprios crimes!
Faz sentido? Nenhum, foda-se. A gente quer ver os dois saindo na porrada.
E o filme acerta bastante em explorar o que cada personagem tem de melhor. Enquanto Freddy é um falastrão debochado, Jason é uma força da natureza que não pode ser detida. Só erra em ser excessivamente didático, com o longo monólogo de Freddy no começo, as explicações de como ele vai voltar, de como Jason voltou, de como um teme o fogo e o outro teme a água… Só faltou o Michael Caine pra ser um filme do Christopher Nolan.
A Nightmare on Elm Street (2010) – o remake é muito bem sucedido em respeitar elementos do filme original, explorando alguns pontos dos filmes subsequentes e se estabelecendo como um novo começo. Infelizmente, não rolou.
A despeito de ter um ator fantástico como Freddy, James Earl Haley (lembram dele? Ele é o amigo de Johnny Depp que foi fazer teste para o primeiro Pesadelo), o personagem foi descaracterizado em dois pontos importantes.
Primeiro, na aparência. A mistura de maquiagem, próteses e CGI ficou muito boa e realista se pensarmos em alguém que teve o rosto completamente queimado – mas ela tira a expressividade de Freddy. Isso é particularmente importante para o segundo ponto: seu senso de humor está completamente ausente! Freddy é puro ódio e violência, diferente do rufião que fazia caras e bocas nos outros filmes. Seu carisma é reduzido a zero e não conseguimos “torcer pra ele voltar” como nos filmes anteriores. Não há nada atraente neste Freddy, apesar de muito bem construído.
Aqui, é bom notar, Freddy não só matava: ele molestava as crianças, algo que vem lá da ideia original de Wes Craven para o primeiro filme. Não resta a menor dúvida que cometer o mais hediondo dos crimes não ajuda em nada pra estabelecer o carisma do personagem. Me pergunto se o filme original teria se tornado cult se tivessem seguido por esse caminho.
Pelo menos tem atores melhores ao redor de Freddy: Rooney Mara se saiu muito bem como Nancy. A produção, edição e direção, que soam tão datadas quando assistimos os filmes dos anos 80, estão bem afiadas aqui. Mas aí entra outro problema: o filme começa e parece que está na metade, com os jovens já profundamente atormentados pelos pesadelos com Freddy – algo que, antes, era construído pouco a pouco, até que tivesse uma morte impactante e os personagens pensassem “é, tá na hora de fazermos algo a respeito”.
Ou seja, viram tudo a respeito da franquia, melhoraram o visual, escalaram bons atores, mas parecem que não entenderam a essência. É como, sei lá, dar um filme da Liga da Justiça pro Zack Snyder (só que bem escrito). É bom mas não é cativante. “Certinho” demais, formatado demais.
“Seven, eight, better stay awake…”
A série também tem uma espécie de mensagem subliminar sobre crescimento e desenvolvimento ao longo dos filmes, algo que vai sutilmente sendo explorado e mostrado de maneira quase sem intenção. O primeiro filme, que foca bastante na puberdade, tem os amigos de Nancy falando que você não é “cool” enquanto não transar – e todos, na mesma faixa etária, estão tendo dificuldade em lidar com essa transição. Sem esquecer, claro, a cena em que Nancy está na banheira, pegando no sono, e as garras de Freddy aparecem na superfície entre suas pernas – além de ser uma das cenas mais tensas da história do cinema de terror, ela também transmite a ideia de menstruação, sexo e desejo -tanto no papel de objeto quanto no de quem deseja.
O segundo filme ficou bastante conhecido por, após a puberdade, lidar com a sexualidade – mais especificamente, a homossexualidade. Nancy é substituída por Jesse, um adolescente que tem… algo dentro dele que o impede de ter relações com sua namorada. Jesse corre para casa de seu amigo Grady, que fazia bullying com ele, invade seu quarto e o encontra sem camisa na cama. Jesse, desesperado, diz que precisa passar a noite lá e Grady responde que o rapaz quer apenas dormir com ele. Jesse está confuso e, longe dali, é precisamente nesse momento que Freddy sai do armário – ops, do mundo dos sonhos, invadindo o mundo real e começando a matança.
Claro, pra não falar na cena do professor de educação física sendo despido e amarrado no banheiro do vestiário antes de ser chicoteado.
O terceiro filme tenta endereçar o problema com as drogas. Aqui, os adolescentes estão em uma instituição psiquiátrica e Nancy, a heroína do primeiro filme, aparece com o discurso de “já passei por isso”. Mas aqui ela é a traficante, que empurra os jovens para os sonhos dizendo que lá eles podem ser quem eles quiserem, podem ser os heróis que sempre sonharam. Aos poucos eles são destruídos e Nancy, se era um símbolo de puberdade no primeiro filme, é destruída pelo vício Freddy neste.
O quarto filme mostra os adolescentes sendo mortos enquanto a protagonista Alice “absorve” um pouco de cada um deles. Tentar encontrar seu estilo através da imitação, desenvolver a personalidade, são características de um período posterior na vida, como a faculdade. A sexualidade está mais aflorada e desenvolvida e isso nos leva ao quinto filme: paternidade. Alice está esperando um bebê! Isso cria um paralelo com a história de Amanda Krueger, a mãe de Freddy e, como poderíamos esperar, a situação é angustiante. E metaforicamente rica. Vejamos:
O namorado de Alice, Dan, está curtindo com os amigos quando ela liga pra contar que Freddy voltou. O peso da responsabilidade cai sobre ele, que não vai mais ver os amigos com tanta frequência – no caso de Dan, frequência nenhuma, já que Freddy o mata e possui seu corpo. A primeira coisa que ele diz a Alice quando possuído: “Quer fazer uns bebês?”
Freddy’s Dead é mais sobre a vida adulta, representando suas escolhas de vida (todas errada, acho que nem preciso dizer). Temos o velho Freddy jogando videogame, tentando se conectar com sua filha e sendo meio ridículo em tudo isso. Wes Craven’s New Nightmare é a meia idade: da franquia, de Robert Englund, de Wes Craven… Nancy-Heather está de saco cheio dos filmes, como aquela pessoa que trabalhou a vida inteira e começou a sentir que foi em vão.
Se essa teoria faz sentido ou não, cabe a você dizer quantas vezes viu sua vida refletida em cada uma dessas etapas. Jason vs Freddy é aquele reencontro com velhos amigos, enquanto o reboot é apenas a repetição das ideias do primeiro, mas que deixa um gosto de “estou velho demais pra essa merda”. Se identificou?
“Nine, ten, never sleep again…”
Já se vão dez anos desde o último filme da franquia. Teremos outro em algum momento? Bom, Wes Craven faleceu em 2015 e foi responsável pelos melhores momentos da saga. Houve algumas tentativas de trazê-lo de volta nesse meio tempo – e saberemos que uma hora isso vai acontecer. Mas qual seria o melhor caminho a seguir?
Temos duas cronologias: a original, criada por Craven e estrelada por Englund, e o reboot estrelado por Haley. A versão clássica e icônica, sem dúvida, é a que está no imaginário popular – mas Englund é um senhor septuagenário que já aposentou a luva com garras. E fazer uma sequência de um filme que já tem dez anos pode ser bastante arriscado. Outra opção é recomeçar do zero, com um novo elenco e uma nova cronologia, sem Haley ou Rooney Mara – na verdade, sem Nancy. Recontar a história do estripador da rua Elm, sua morte e seu retorno nos sonhos dos filhos das pessoas que o mataram.
Claro que também dá pra continuar com outro ator do ponto onde Englund parou – mas fazer uma continuação de um filme antigo, ignorando filmes intermediários e com um novo elenco não é lá um case de sucesso – Superman Returns que o diga.
Sempre dá pra investir num prequel também. Mostrar Krueger mais jovem, os eventos aterradores que o moldaram – talvez ele descobrindo a verdade sobre seu “pai” depois de adulto e se entregando à loucura, após passar anos acreditando que era apenas um “adolescente comum”. Quem sabe até ele recebesse estranhas “visitas” em seus sonhos e fosse obcecado pela maneira como caminhamos tão perto da morte enquanto dormimos. O próprio Englund chegou a citar essa hipótese numa entrevista para o SyFy Wire em 2020: “Eu acho que a franquia merece uma prequel realmente boa. Nunca houve um filme inteiramente dedicado a Freddy antes de ele ser queimado vivo, seus crimes, ser pego pela polícia, ir a julgamento, sendo solto mesmo tendo confessado matar crianças. Sabemos que ele foi solto, então, pra mim, o foco seria nos advogados, que o livraram da prisão… E claro que o final seria com os pais vigilantes o queimando vivo.”
Na verdade, essa foi a premissa do primeiro episódio da série Freddy’s Nightmares de 1988, uma antologia de contos de terror num formato parecido com “Além da Imaginação”. Apresentada pelo próprio Englund como Freddy, a série chegou a ser lançada em VHS no Brasil e mostrava diversas histórias curtas de terror. Existe também um roteiro escrito por John Saxon, que interpreta o pai de Nancy na série, mostrando Freddy como um homem inocente que foi acusado de crimes cometidos, na verdade, por Charles Manson! Imagine só, ele era inocente o tempo todo e volta pra se vingar dos filhos inocentes de seus assassinos – uma bela reviravolta!
A Hora do Pesadelo, seus icônicos personagens, atores envolvidos e, especialmente, Wes Craven e Robert Englund gravaram seus nomes na história do cinema. O que começou com um filme de baixo orçamento em um estúdio quase falido se tornou uma franquia emblemática, sempre lembrada quando falamos de filmes de terror. Exagerada, cafona ou até mesmo boba pros padrões de hoje, a franquia é um exemplo de como os fatores certos no filme certo resultam em um produto comercialmente duradouro e lucrativo. É questão de tempo para que Freddy volte a aterrorizar os sonhos de suas vítimas e seus fãs, isso é certo. Quando isso vai se dar, e em que formato, é algo que ainda precisamos aguardar pra descobrir.
Mas ele sempre volta.
Nós sempre precisamos dormir.
One, two, Freddy’s coming for you…