Homem-Aranha 2099 – Não é só a roupa que mudou!

Homem-Aranha 2099 – Não é só a roupa que mudou: Uma coisa legal de ir comprar gibi na banca aí na virada dos anos 80 pros anos 90 é que, muitas vezes, a gente tinha umas surpresas realmente memoráveis. Isso porque o calendário de lançamentos não entregava muita coisa, não havia internet e toda divulgação era feita nas páginas das próprias revistas – a maioria delas publicada pela falecida Editora Abril.

Foi numa dessas idas à banca que me deparei com um gibi em “formatinho” (o formato padrão dos quadrinhos da Abril era o 13cmX21cm) com capa laminada em vermelho vivo e uma figura sinistra, inédita e muito arrojada – mas com um nome bem familiar.

Homem-Aranha 2099 - Não é só a roupa que mudou!

Era o Homem-Aranha 2099, o começo de um novo universo da Marvel Comics e também o nascimento de muitas boas lembranças.

Originalmente um “possível futuro” do universo regular da Marvel, a linha 2099 foi anunciada em 1992 como uma série desenvolvida por Stan Lee e John Byrne. Acabou se tornando uma linha de publicações, com três versões futuristas de personagens pré-existentes: Doom, Justiceiro e Homem-Aranha; além de um personagem original: Ravage, escrito por Lee. Outros títulos logo se juntaram à linha, como Hulk, Motoqueiro Fantasma e X-Men, mas nenhum tão bem-sucedido quanto o do Amigão da Vizinhança.

Criado por Peter David e Rick Leonardi, o Homem-Aranha 2099 parte da ideia de mostrar o “amigão da vizinhança” em um futuro distópico, mas a genialidade de David o transforma em bem mais do que uma reinterpretação da história de Peter Parker. Usando e abusando da criatividade para mostrar novas tecnologias e seu impacto na sociedade e nas relações, David sedimenta algumas das características mais marcantes do herói Aracnídeo em alguém que não quer ser o Homem-Aranha!

Homem-Aranha 2099 - Não é só a roupa que mudou!

Nossa história começa na Nova York de 2099, uma megalópole cyberpunk controlada por organizações corruptas como a Alchemax. Lá trabalha Miguel O’Hara, o diretor do programa genético que busca replicar os poderes de um antigo herói do final do século XX, o Homem-Aranha, para fins bélicos e comerciais. Após uma cobaia humana morrer em um experimento, O’Hara expressa seu descontentamento aos seus superiores e afirma seu desejo de se desligar do projeto. Como “punição”, ele é viciado à força na droga Êxtase, um composto que se liga ao DNA do usuário, causando dependência extrema. Chantageado, O’Hara decide colocar em prática um plano bem arriscado: como ele já tinha usado uma amostra de seu próprio DNA durante as pesquisas para replicar os poderes do Homem-Aranha, ele decide experimentar a fórmula em si mesmo, acreditando que isso possa “limpar” o seu DNA. Como em qualquer bom gibi, o que acontece é que ele ganha poderes… que têm muito pouco a ver com os do Homem-Aranha original.

A força e a agilidade proporcionais às de uma aranha estavam lá. Mas ele também possuía garras retráteis, que brotavam de suas mãos e pés, visão extremamente apurada, teia orgânica e presas capazes de inocular veneno!

Homem-Aranha 2099 - Não é só a roupa que mudou!

Se Peter Parker começou a combater o crime por se sentir culpado pela morte do tio Ben, Miguel O’Hara precisou começar sua carreira heróica lutando pela sobrevivência. Usando uma assustadora fantasia de dia de los muertos* azul com uma caveira vermelha, O’Hara tinha um vasto leque de artefatos tecnológicos no traje: feito das mesmas moléculas instáveis que os trajes do Quarteto Fantástico, ele era virtualmente indestrutível e se adaptava aos seus poderes; o tecido também lhe permitia planar e se camuflar em qualquer ambiente com facilidade. Sem dúvida, muito mais ameaçador que o Aranha que conhecíamos!

Mas diferente do original, O’Hara não tinha o menor interesse em usar seus poderes com responsabilidade – o que ele queria era se livrar deles! Mas os problemas o acompanham e suas escolhas o levam a adotar a persona heróica como um aspecto de sua vida, aprendendo a lidar com as consequências de seus atos e como eles afetam as pessoas ao seu redor. Irônico, se considerarmos que ele tinha um ótimo emprego, relacionamento estável, uma estrutura familiar razoavelmente sólida e não tinha motivo nenhum pra querer ser um super-herói.

Mas é justamente essa a graça: não é só pegar o personagem conhecido e jogá-lo em outro ambiente. É necessário explorar todas as possibilidades que possam torná-lo mais crível, verossímil e simpático ao leitor. A publicação americana se encerrou no número 46 (a brasileira foi até o #39) e deixou saudades entre os leitores, tanto aqui quanto lá fora. Desde então, o Homem-Aranha 2099 voltou a aparecer algumas vezes, chegando a fazer parte da saga “Aranhaverso” com bastante destaque e voltando a ter um título mensal – novamente, nas mãos competentes de Peter David.

Mas não resta a menor dúvida que o grande momento do personagem foi nos anos 90, quando também foi publicada no Brasil a revista dos X-Men 2099 e até um especial do Justiceiro 2099. Todos buscavam atualizar as questões que definiam os personagens em um ambiente novo – mas o Aranha tem a espetacular capacidade de se relacionar com qualquer leitor, de qualquer parte do mundo – e, como ficou bem claro, de qualquer linha temporal.

* O dia de los muertos é uma tradicional celebração que honra os mortos, muito comum no México, alguns países da América Central e algumas regiões dos Estados Unidos com grande número de imigrantes mexicanos. Ela coincide com as datas de tradição católica de finados e dia de todos os santos, bem como com o halloween. É comum usar fantasias nessas festas, e foi uma dessas que Miguel O’Hara usou para criar sua persona heróica.

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Raul Kuk o Mago Supremo

Raul Kuk - o Mago Supremo. Pai de uma Khaleesi, tutor de uma bruxa em corpo de gata.

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