HOMEM-ARANHA 3 – TUDO QUE PODIA DAR ERRADO, EVENTUALMENTE DEU!
HOMEM-ARANHA 3 – TUDO QUE PODIA DAR ERRADO, EVENTUALMENTE DEU: Os filmes de Sam Raimi para o Homem-Aranha marcaram época, marcaram os fãs, marcaram as adaptações de quadrinhos pro cinema e também marcaram aquele aumento de expectativa maldito para a conclusão de uma trilogia. Como não podia deixar de ser com trilogias, muita coisa podia dar errado… E deu.
O filme ficou marcado por, diferente dos anteriores, não ter um foco – e isso se explica pelo tormento que foram os bastidores da película. Sam Raimi ama os vilões clássicos do Aranha e queria usar mais um deles: o Homem Areia. Nada tão grandioso quanto o Duende Verde ou o Dr Octopus, mas não dá pra negar que havia um potencial muito grande para cenas de efeitos especiais fantásticas. O problema é que os produtores queriam que ele usasse o Venom – aí já viu, né? Quem paga as contas é quem decide e, como o Venom tinha um potencial muito grande para estrelar seus próprios filmes, Raimi teve que aceitar incluir um personagem que, apesar de já ter seu lugar nos corações dos fãs, destoa muito da mitologia do Escalador de Paredes.
Como se não bastasse essa queda de braço na qual todos perdem, ainda era necessário fechar a história de Harry Osborn, agora ciente da vida dupla de Peter Parker – e muito querido pelos fãs, que não viam a hora de ele se tornar o novo Duende.
No meio disso tudo, temos um Tobey Maguire (Peter Parker/Homem-Aranha) e Kirsten Dunst (Mary Jane Watson) visivelmente de saco cheio, atuando com uma má vontade tremenda e, em muitos momentos, chegando a comprometer o filme. Como se seus salários já não fossem bons o bastante… Mas, cercado de expectativa, “Homem-Aranha 3” teve uma bilheteria de mais de 890 milhões de dólares – compensando seu orçamento de 250 milhões. Se, financeiramente, não foi um fracasso, o mesmo não pode se dizer da recepção do público e da crítica ao chegar às salas de cinema.
Mas, afinal de contas, o que deu errado em um filme que tinha tanto potencial pra dar certo? Apertem os cintos e acompanhem titio Kuk em uma jornada pelas trevas da alma e da maior batalha que alguém pode travar: competir com si mesmo.
A DIREÇÃO
O próprio Sam Raimi admitiria mais tarde que o maior problema foi tentar superar os filmes anteriores. Ao invés de se ater aos personagens que tinha e seus respectivos desenvolvimentos, ele tentou subir as escalas e… falhou. Claro, ele conseguiu tornar o Homem Areia visualmente incrível, mas isso não basta. Novamente, o vilão-que-não-era-vilão-de-verdade-mas-vítima-de-um-experimento-científico-que-deu-errado foi demais para o público, que não engoliu o draminha familiar. O simbionte alienígena, sem maiores explicações, está tão jogado na história quanto aquelas referências vazias em filmes modernos que não passam de fan-service – mas o problema aqui é que ele seria um dos centros da história!
Mesmo lidando muito bem com atores e efeitos especiais para amarrar a história, tudo aqui acaba se perdendo, com personagens saindo da trama e voltando de repente, sem uma linha narrativa clara. Vimos isso antes em filmes com personagens (ou vilões) demais, e sempre acabou sendo um erro mesmo.
OS ATORES
Tobey Maguire nunca foi um Peter Parker fiel aos quadrinhos. Goste dele ou não, vamos admitir os fatos: aquele Peter bobalhão, alienado, imbecil e que parece estar babando em algumas cenas não é o mesmo personagem dos quadrinhos. Mas até aí, precisamos reconhecer que ele já vinha de dois filmes assim e mudar tudo agora seria difícil.
Talvez com um ator mais interessado em seguir no papel? Maguire, claramente, está no modo automático, com uma atuação muito abaixo dos filmes anteriores, com ainda menos carisma. Sem dúvida, seu cachê já era bem respeitável – as dificuldades em renovar seu contrato do primeiro para o segundo filme não foram sentidas aqui – mas ele simplesmente atua como se tivesse coisa melhor pra fazer. Pra piorar, o roteiro exigia uma ruptura muito grande na personalidade do Peter, que ele não era capaz de entregar. O problema atinge Kirsten Dunst que, a exemplo de Mary Jane, devia estar sonhando com uma carreira mega-estelar – mas acabou tendo que ficar por ali mesmo. É uma agonia vê-la em cena.
Já J.K. Simmons como J.J.Jameson segue um espetáculo a parte, capaz de segurar sua própria franquia. A segurança no papel, o timing pra comédia, as pequenas camadas que tornam o personagem tão querido estão sempre lá: não importa quanto tempo de tela tenha, pra esse ator fantástico é o bastante. Ele tira o melhor de cada cena e entrega uma performance absurdamente divertida e comovente.
James Franco está tão canastrão no papel, tão overacting que é… bom. Muito bom. É estranho admitir isso, mas talvez justamente por perceber o absurdo da situação (roupa alienígena e vilão bonzinho), Franco tenha percebido que o melhor a fazer era tocar o puteiro e aproximar sua atuação o máximo possível da de Willem Dafoe. E talvez ele até tenha encontrado um bom nicho aí: um excelente ator, capaz de se adaptar não só ao papel, mas à situação ao redor dele, e entregar o que é necessário – mesmo que não seja o que o roteiro pede.
Os novatos Thomas Haden Church (como Flint Marko, o Homem Areia), Topher Grace (como Eddie Brock e Venom) e Bryce Dallas Howard (Gwen Stacy) parecem estar dispostos a agarrar com unhas e dentes a chance de se tornar parte da bem-sucedida franquia. Entregam muitas emoções do humor ao drama (Howard), se esforçam pra convencer em cenas sentimentais (Church) e são canastrões o suficiente para serem odiados (Grace). Tivesse a franquia continuado, seria interessante vê-los de volta aos papéis. Infelizmente, os efeitos especiais envelheceram muito mal e a antes fantástica cena do acidente que transformou Marko no Homem Areia hoje parece pior que um video-game de última geração. Até o cenário é excessivamente artificial – pra não falar das cenas de luta do Homem-Aranha.
OS PERSONAGENS
O Homem-Aranha passa por uma grande – e abrupta – mudança nesse filme. De bonzinho e poliana a um justiceiro implacável, a roupa alienígena traz a tona todos os demônios da alma de Peter Parker – sem convencer em momento nenhum. Apenas a natureza da relação simbiótica com o traje é explicada, sem muito espaço para definir exatamente o que isso está fazendo com sua psiquê. Quando o simbionte se une a Brock, parece apenas natural que ele se torne um vilão: Brock já era ruim mas, diferente de sua contraparte nos quadrinhos, esse Eddie era um coitado, um puxa-saco loser e fracassado que usou uma mentira para se garantir no emprego. Enquanto, nos quadrinhos, Brock e o simbionte buscam redimir um ao outro protegendo os inocentes como Venom, aqui ele só quer se vingar do Aranha.
Já o Homem Areia é o típico personagem de Sam Raimi: a vítima de um experimento (ou acidente) científico que, por alguma força externa, se torna o vilão da história – sem ser, necessariamente, mau. No primeiro filme, Norman Osborn era um péssimo pai e empresário inescrupuloso, mas é a fórmula do Duende que o transforma num monstro assassino. O Dr Otto Octavius, cientista bonzinho e de coração puro, se transforma numa máquina assassina por influência dos próprios tentáculos que inventou, que, de alguma forma, mandavam nele (!). Não sabemos explicar isso melhor (mas tentamos, no texto sobre “Homem-Aranha 2” que você confere neste link!). Já o Homem Areia é apenas um homem rude que ama sua filha e, diante dos problemas de saúde dela, chega ao extremo de cometer crimes para arrumar dinheiro pro tratamento. Ao se tornar o Homem Areia, ele continua lutando por sua filhinha – mas no fundo é um bom sujeito.
Gwen Stacy é a garota pura e cheia de vida que se espera dela, muito inteligente e capaz de tocar o coração de Peter. É uma pena que ela tenha entrado na história tarde demais, com o coração dele já nas mãos de Mary Jane, mas esse é apenas um exemplo de como o roteiro tropeça nas próprias pernas. Só lembrar da cena em que ela, a estudante brilhante, faz fotos como modelo (!) num escritório (!!) com a roupa que saiu da faculdade (!!!). Qual era a ideia ao mostrar Gwen trabalhando como modelo? Afirmar a beleza dela? Porra, que MERDA.
O ROTEIRO
Minha nossa senhora do furo no roteiro…
Harry sai na porrada com Peter, apanha e perde a memória. Um meteoro com um simbionte alienígena cai perto do Peter. Um dos bandidos envolvidos no crime que vitimou o tio Ben sofre um acidente e se transforma numa criatura de areia. Aí o Aranha salva a Gwen Stacy que estava posando num escritório quando uma grua desgovernada começou a derrubar tudo. Eddie Brock rouba o emprego de Peter. Gwen pede um beijo pro Aranha, que dá mole. O Aranha apanha do Homem Areia. Harry recupera a memória e ferra o namoro de Peter com Mary Jane. O simbionte se une ao Aranha, deixando sua roupa preta, sua franja emo e seu gosto pra música ainda pior (segue a cena de dancinha na rua). O Aranha espanca o Homem Areia. O Aranha espanca Harry. Peter destrói a “carreira” de Eddie. Peter chama Gwen pra sair só pra humilhar Mary Jane no bar que ela trabalha, numa das cenas mais constrangedoras das adaptações de quadrinhos. Peter vê que só tá fazendo merda e se livra do simbionte, que se une a Brock, que se une ao Homem Areia e, juntos, sequestram Mary Jane. Peter pede ajuda a Harry que nega, mas muda de ideia após o mordomo lhe contar toda a verdade sobre seu pai – COISA QUE ELE PODIA TER FEITO DOIS FILMES ATRÁS! O Aranha luta com Venom e Homem Areia, Harry aparece pra ajudar, eles salvam Mary Jane, Harry se sacrifica pelo melhor amigo, Venom DESAPARECE NO AR e Peter perdoa o Homem Areia. Fim.
O VEREDICTO
Meus queridos amigos, eu não sou exatamente um cara de muito bom gosto pra filmes, mas esse Homem-Aranha 3 é ruim demais, tá loko. Um grande potencial foi desperdiçado aí e, o que é pior, as chances de Raimi continuar fazendo filmes do Cabeça de Teia minguou. Ele já tinha seus planos para o quarto filme, como introduzir o Abutre e a Gata Negra, mas jamais saberemos com o que esses filmes se pareceriam – até pelo acordo entre a Sony e a Marvel, que permitiu ao Aranha aparecer nos filmes dos Vingadores. E talvez seja melhor assim.
Só é uma pena que essa fase tão marcante do herói nos cinemas tenha terminado de maneira tão melancólica, seguida por um reboot que também não mostrou a que veio. Fica a saudade dos dois primeiros filmes e, como disse Peter no final do filme para Flint, “eu perdoo você”.
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