Homem-Aranha: de Volta ao Lar – Quando menos é mais
O “volta ao lar” no título do filme acaba sendo mais significativo do que a gente pode pensar num primeiro momento. Além de ser a tradicional festa americana para os estudantes do segundo ano, ele fala, obviamente, do fato de a Marvel Studios ser a grande responsável pela produção e roteiro, ligando ainda mais o Aracnídeo ao universo dos Vingadores.
Foi a oportunidade ideal para olhar para a essência do personagem, os elementos que o tornaram um dos mais populares do mundo e, mesmo correndo um grande risco, desconsiderar uma série de fatores para torná-lo relevante novamente junto ao público. Sim, novamente, pois sua popularidade ficou abalada pela morna recepção aos filmes “Amazing”. Dessa vez, o risco foi mostrar um Peter ainda na escola – interpretado por um ator REALMENTE em idade escolar – como o nerd desajustado que está tentando se encaixar e ser cool, sem ser bobão ou alienado. Nada de Mary Jane, Gwen Stacy, Norman ou Harry Osborn, Clarim Diário… Os únicos elementos clássicos do Aranha são a bela relação de confiança/conflito com a tia May e sua insistência em lutar pelo que é certo a qualquer custo – como dissemos, uma volta à essência do personagem.
O filme começa pouco após os eventos de “Capitão América: Guerra Civil”, quando fomos formalmente apresentados. Sua rotina passa a ser estudar (bastante) e combater o crime na sua vizinhança – ou quase.
Não há lá muitos crimes ocorrendo no Queens, então o negócio é prender ladrões de bicicleta e dar orientações para quem está perdido. Apenas um bom garoto tentando fazer o seu melhor.
Um inescrupuloso micro-empresário do ramo de construção civil enxergou na batalha de Nova York entre os Vingadores e a armada Chitauri (como visto no primeiro filme dos heróis mais poderosos do mundo) uma oportunidade de lucrar longe do esquema opressor das grandes corporações. Esse empresário é Adrian Toomes. Sim, ele é o Abutre – e sim, ele é interpretado por ninguém menos que Michael Keaton.
O veterano dos primeiros filmes do Batman dirigidos por Tim Burton parece ter reencontrado o rumo em sua carreira. Ele não só está muito à vontade no papel de vilão, se divertindo e atuando de maneira convincente, como também empresta aquele ar de ameaça real, que não vimos desde o Duende Verde de Willem Dafoe. Keaton é um ator completo e seu Abutre é uma ameaça à altura do Aranha. Ou talvez até acima dele.
O resto do elenco segura muito bem a onda – e a sempre providencial participação de Robert Downey Jr é outro contra-ponto ao novato intérprete do Aranha, Tom Holland. A tia May de Marisa Tomey, muito mais jovem que qualquer versão anterior, também foi um acerto. Ela está mais próxima de Peter e os diálogos entre os dois funcionam muito bem.
Curiosamente, não temos diversos elementos clássicos do personagem, como o tio Ben, a origem, “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” de forma EXPLÍCITA. Como dito antes, é a essência do personagem sendo bem explorada. O que já vimos em cinco filmes anteriores fica subentendido – e pode vir a ser melhor detalhado no futuro.
Se a trilogia de Sam Raimi é cheia de grandes momentos, apesar de seu Peter Parker ser o ponto fraco, vimos uma tentativa de deixar o protagonista mais humano em “Amazing”. Aqui, no entanto, temos o equilíbrio perfeito entre as versões anteriores, um Homem-Aranha que salta diretamente das primeiras histórias de Stan Lee e Steve Ditko para o século XXI e por quem temos gosto de torcer. Ele erra, se emociona, tem dúvidas, se empolga com bobagens, se apaixona com facilidade e se entrega de coração ao que acredita. É o que está nos gibis e é o que faz o personagem tão popular no final.