Judas Priest – os 40 anos de Unleashed in the East!

Em 2018, numa rápida conversa com o truta Muddy (da coluna Clássico do Dia publicada aqui no Popsfera) entre outros notáveis MBBistas sobre o Jugulator, comentamos o primeiro disco do Judas Priest que cada um havia comprado. Não foi unânime, mas Unleashed in the East teve papel importante para todos nós.

O disco ao vivo pode ser um verdadeiro “rito de passagem” para uma banda, a oportunidade dos fãs saberem do que ela é capaz no “campo de batalha”. Não são poucos os exemplos de discos nesse formato que definiram carreiras: Alive!, do KissLive at Leeds, do The WhoMade in Japan, do Deep Purple e Live Killers, do Queen, são alguns bons exemplos de discos que colocam o show dentro de nossas casas — ou transportam a gente pro show.

No caso do Priest, quanto mais eles caminhavam rumo ao topo, melhores ficavam suas apresentações ao vivo. Era natural, portanto, que a banda quisesse compartilhar com os fãs a energia de seus shows.

A questão é que, ainda que seja o registro ao vivo definitivo do Judas Priest (sempre será superior a Priest Live!), Unleashed in the East ficou marcado por ter sido mexido em estúdio, os famigerados overdubs que corrigem problemas de som aqui, equalizam os instrumentos ali e ajustam eventuais desafinadas acolá. O Judas Priest precisava disso? Não, não precisava. Eles já tinham um bom tempo de estrada e deveriam ser perfeitamente capazes de colocar nas lojas um retrato mais fiel do que fizeram no palco.

Segundo Rob Halford, o grande problema foi um erro na mixagem do material original que arruinou a gravação de sua voz, fazendo com que ele tivesse que entrar no estúdio pra, literalmente, cantar tudo de novo, acompanhando o disco. A interferência do estúdio, nesse caso, foi fruto da incompetência da produção em garantir a qualidade das gravações, e não um artifício pra “melhorar” o que tinham em mãos. Não é difícil conseguir bootlegs do Judas Priest pré-British Steel e verificar que, de fato, eles sempre mandaram muito bem — Halford dispensa comentários. É uma injustiça que o disco seja lembrado por isso.

(Há também entrevistas de Halford em que ele afirma estar gripado na época da gravação dos shows, por isso teve que refazer tudo no estúdio).

Sejamos honestos, todo mundo dá aquela passada de pano nas gravações ao vivo. Talvez pelas circunstâncias da época, o Priest tenha servido de exemplo para os demais na mídia, tornando-se um caso emblemático de “o que não fazer ao lançar um disco ao vivo”. Eu não sou técnico de som, não entendo nada de produção, gravação, mixagem, masterização… Só posso dizer que, se esse disco tem algum problemas, limita-se às ausências de “Dissident Aggressor”, “Saints in Hell”, “Beyond the Realms of Death” e “Hell Bent for Leather” (essa última foi incluída como bônus em edições posteriores). Não tem nada do Rocka Rolla também, mas ninguém liga pra esse. A falta de tantas músicas se justifica por se tratar de um disco simples, e não duplo. O Priest tinha material suficiente, mas disco duplo era um artigo bem caro em 1979 e talvez eles tenham optado pela rota mais segura (ou talvez aquele problema no estúdio tenha deixado todo mundo com preguiça de trabalhar tanto em cima dele).

O disco começa dando tapa na cara com “Exciter”, uma música clássica do Priest: é rápida, pesada e as guitarras são exatamente o que viria a definir o estilo nos anos seguintes. A voz de Halford alcança notas supreendentemente altas. Não há o que questionar, o cara é um monstro e faz jus ao apelido “Metal God”. “Running Wild” vem na sequência, com riffs cortantes e sem tempo pra recuperar o fôlego. Eles mantêm a pegada em “Sinner” e na impressionante “The Ripper”. Essa música é daquelas que conseguem resumir o heavy metal em menos de três minutos, com tudo que o estilo oferece de melhor. Um clássico, indiscutivelmente.

A dobradinha de covers — “The Green Manalish” e “Diamonds and Rust” — não decepciona. São músicas excelentes que o Priest “roubou”, dando a elas uma roupagem que, ao mesmo tempo que respeita a original, passa a ter as características mais marcantes da banda. Uma coisa legal é que, quando acontece a chegada de Ripper Owens à banda, eles passaram a tocar uma versão de “Diamonds” mais próxima da original e, quando Halford volta, por um tempo eles tocaram uma versão que era um meio termo. Confira:

Mas Unleashed in the East não tem violão, amigo. Não tem acústico. É só porrada e derramamento de sangue.

Isso fica claro quando eles tocam a clássica “Victim of Changes”, com seus longos solos, e a dobradinha matadora “Genocide” e “Tyrant”, um encerramento que mostra toda a força do álbum Sad Wings of Destiny. Uma versão japonesa de 2011 ainda viria com as faixas-bônus “Rock Forever”, “Delivering the Goods”, “Hell Bent for Leather” e “Starbreaker”.

As músicas têm um andamento mais rápido que as versões originais de estúdio, como era de se esperar. Mas é muito fácil perceber que, ainda assim, há uma preocupação muito grande com a fidelidade dos arranjos, que seriam a inspiração para milhares de bandas de hard rock, heavy metal, thrash metal e até death metal que vieram depois. O Judas Priest ainda não havia atingido o seu auge: no ano seguinte, eles lançariam o mais-do-que-clássico British Steel. Mas não resta a menor dúvida de que, ao forjar o estilo, a prova de fogo do disco ao vivo foi uma etapa fundamental para o Priest dentro do Heavy Metal. O que não é pouco quando a gente fala de uma banda que torna tão difícil escolher qual o seu melhor álbum ou melhor fase, sendo capaz de se reinventar e reposicionar dentro da cena com o vigor de um novato mas com a segurança de um veterano.

Judas Priest – “Unleashed in the East”
Columbia Records

  • Rob Halford – Vocais
  • K.K. Downing – Guitarra
  • Glenn Tipton – Guitarra
  • Ian Hill – Baixo
  • Les Binks – Bateria
  1. “Exciter” (Rob Halford, Glenn Tipton) – 5:38
  2. “Running Wild” (Tipton) – 2:53
  3. “Sinner” (Halford, Tipton) – 7:31
  4. “The Ripper” (Tipton) – 2:44
  5. “The Green Manalishi” (Peter Green) – 3:16
  6. “Diamonds & Rust” (Joan Baez) – 3:30
  7. “Victim of Changes” (Al Atkins, Halford, K.K. Downing, Tipton) – 7:12
  8. “Genocide” (Halford, Downing, Tipton) – 7:19
  9. “Tyrant” (Halford, Tipton) – 4:32

Faixas bônus da versão japonesa:

  1. “Rock Forever” (Halford, Downing, Tipton) – 3:27
  2. “Delivering the Goods” (Halford, Downing, Tipton) – 4:07
  3. “Hell Bent for Leather” (Tipton) – 2:40
  4. “Starbreaker” (Halford, Downing, Tipton) – 6:00

Ouça no Deezer: https://www.deezer.com/album/99040?utm_source=deezer&utm_content=album-99040&utm_term=2403969748_1574440952&utm_medium=web

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Raul Kuk o Mago Supremo

Raul Kuk - o Mago Supremo. Pai de uma Khaleesi, tutor de uma bruxa em corpo de gata.

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