Monstro do Pântano S01E01 – bola dentro do DC Universe!
Monstro do Pântano é, sem sombra de dúvidas, um dos gibis mais importantes já publicados pela DC Comics. De obscuro título de “terror” (entre aspas, já que seu flerte com a ficção científica não assustava ninguém), “Saga of the Swamp Thing” se tornou uma das pedras fundamentais do selo Vertigo, um fértil campo (com o perdão do trocadilho) para alguns dos títulos mais ousados da editora.
Não foi sem um pé atrás que os fãs receberam não apenas a notícia de que o gibi seria adaptado para a TV (isso já havia ocorrido antes, com dois filmes e uma série), mas também que aconteceram diversos problemas durante a produção, que levaram a temporada a ser encurtada, podendo ter seu final apressado e não tão bem executado quanto seus criadores originalmente pensaram.
Esse tipo de coisa pode até mesmo espantar quem havia se interessado pela premissa. Pior ainda, a expectativa em torno de mais uma adaptação de um trabalho de Alan Moore (depois de coisas como “Watchmen”, “V de Vingança” e “Do Inferno”) já é um fator negativo, por sabermos o quanto é difícil transpôr para outra mídia as ideias do velho bruxo.
E é aí que somos surpreendidos novamente! Depois de conseguir conquistar um público cativo com a explosiva “Titans” e arriscar metalinguagem em “Doom Patrol”, a série do Monstro do Pântano mostra um terror mais roots (de onde saiu esse trocadilho?) com suas raízes (eita!) firmemente ligadas ao conceito original do personagem, desenvolvido nos quadrinhos por Len Wein e Bernie Wrightson.
Se ela perde as muitas camadas filósoficas do texto de Moore, ganha no horror. A história honra a origem do personagem mas, dessa vez, quem assume o centro das atenções é a pesquisadora do Centro de Controle de Doenças Abby Arcane (Crystal Reed), que retorna à sua cidade natal para investigar uma estranha infecção que está se espalhando lentamente pela população. Lá ela conhece o biólogo Alec Holland (Andy Bean) e, num cenário construído com muitos mistérios do passado, os dois descobrem que estranhas substâncias químicas têm sido derramadas nos pântanos – e que seus efeitos são assustadores em seres humanos.
Num primeiro momento, o casal de protagonistas parece tão desencontrado que fica impossível imaginar que haja alguma possibilidade de romance entre eles. Mas os atores surpreendem, suas performances são muito boas e todo o elenco parece estar bem preparado para a jornada de terror que os aguarda.
Não é pra menos. O diretor é Len Wiseman, que já dirigiu os pilotos de “Sleepy Hollow” e da comédia romântica “Lúcifer”; a produção é de ninguém menos que James Wan, que já nos presentou com a aterrorizante sequência da Trincheira em Aquaman e grandes filmes de terror, como “Jogos Mortais”, “Gritos Mortais”, “Sentença de Morte”, “Sobrenatural” e “Invocação do Mal”.
O que torna tudo melhor no terror é que não se trata apenas de sustos, mas de memórias. Quem leu o clássico de Alan Moore “Lição de Anatomia” sabe o quanto as lembranças são importantes para um personagem tão trágico quanto o Mostro do Pântano, mas Abby tem um terrível segredo em seu passado. Quando sua dor a torna próxima de Alec, é hora de vermos por quê essa série se chama “Monstro do Pântano” – e não poderia ser num momento mais dramático para ela.
Toda a construção do mundo do Monstro do Pântano é muito bem executada, desde a pequena e decadente cidade à beira do pântano como a forma que as pessoas morrem pela infecção – que chega a lembrar a série Hannibal, tanto em em sua monstruosidade quanto beleza.
“Monstro do Pântano” acaba se saindo muito bem em sua proposta – uma adaptação de quadrinhos com uma mitologia muito rica para brincar e uma série de terror com momentos realmente perturbadores, com um elenco excelente e produção caprichada. Resta torcer para que os problemas durante a produção não afetem o futuro da série e ela possa florescer e dar frutos – e talvez mais alguns trocadilhos.