Netflix e as Fracassadas Aventuras de Sabrina

Já está no seu serviço de streaming favorito a segunda temporada de “The Chilling Adventures of Sabrina“, série baseada nos gibis da Archie Comics sobre a bruxinha Sabrina Spellman. Ruim? Não, não é! Mas ela busca um público diferente: Os ateus de facebook, wiccas de twitter e aquela “galerinha da pesada” que toca o terror nos grupos de whatsapp da família.


“As tia do zap fica puta, mêo rsrsrs”

Porque a nova Sabrina, apesar de estar nas mãos do competente roteirista Roberto Aguirre-Sacasa, é apenas isso: Uma nebulosa lembrança do charme que a série original tinha. “Sabrina the Teenage Witch” era claramente uma série pra pré-adolescentes e adolescentes, com aventuras light, bastante humor e situações que giravam em torno da vida escolar. Era muito fácil se identificar com a protagonista e com os dramas que ela vivia: Ser (ou não) popular, as primeiras responsabilidades, relacionamentos e a convivência com a família – pra não falar em Salem, um gato preto de muita personalidade (na verdade, um feiticeiro que foi pego tentando dominar o mundo e, por isso, foi aprisionado no corpo de um gato).


“E eu teria conseguido se não fossem essas bruxas intrometidas e esse gato falante…”

A série atual? É só satanismo escancarado, bruxaria pop e imagens tiradas de algum grupo do facebook. Salem é um gato de verdade, o que nos priva não só de seu cinismo, sarcasmo e comentários ácidos, mas também da figura que, de uma forma meio bizarra, dava conselhos a Sabrina. Temos muito sangue e sacrifícios, tudo é em tons de preto com toques de vermelho (que me fizeram questionar várias vezes se minha TV estava funcionando bem) e os únicos sorrisos são de satisfação por ter feito mal a alguém. O exagero em ser pesada, impactante e sangrenta afeta os pais de Sabrina, que agora morreram em um trágico e misterioso acidente. Na versão original, eles apenas estavam distantes enquanto nossa simpática bruxinha morava com as tias.

Se antes Sabrina só descobre que é uma bruxa ao completar 16 anos (e demora pra acreditar), agora ela tem plena noção disso desde muito antes, sabendo até mesmo controlar seus poderes. Seu aniversário de 16 anos marca a data em que ela tem que entregar a alma ao Senhor das Trevas em pessoa. Harvey e Sabrina já namoram, sem tensão nenhuma na construção do relacionamento! Da nova aluna da escola que sofre bullying e precisa lutar por espaço, reconhecimento e respeito, temos agora uma garota que já é uma líder, saindo de cena uma importante mensagem da série original.


Praticamente uma série da DC

A série tem seus méritos, claro. A protagonista Kiernan Shipka (Mad Men) tem tanto carisma e talento quanto Melissa Joan-Hart e Michelle Gomez (Dr Who) é sempre adorável no papel de vilã. A série endereça muito bem o feminismo, ao mostrar a criação de um grupo para mobilizar garotas e protegê-las, ou quando Sabrina questiona se realmente quer que Satan tenha poder sobre ela: “Por que é ele quem vai decidir o que eu faço ou deixo de fazer com meu corpo?” Isso se perde, porém, em longas explicações e tediosos diálogos sobre as motivações dos personagens. Enquanto tudo era muito simples e “teen-oriented” na série original, agora parece que temos sucessões de frases para instagram coladas.


“Se for desistir de algo, desista de ser fraca!”

A série original não fez sucesso à toa. A atual, porém, deve muito do seu sucesso às redes sociais e a um público facilmente sugestionável, com senso crítico menor e excessivamente apegados a maratonas de Netflix – seja lá do que for. Dessa forma, não é preciso magia para continuar – e nem poderia, pois ela se perdeu por completo.

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Raul Kuk o Mago Supremo

Raul Kuk - o Mago Supremo. Pai de uma Khaleesi, tutor de uma bruxa em corpo de gata.

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