O Mandaloriano – O Caçador de Recompensas que Roubou meu Coração
O Mandaloriano – O Caçador de Recompensas que Roubou meu Coração: Desde o anúncio da compra da LucasFilms pela Disney – em outras palavras, desde que o Universo Star Wars saiu do controle de George Lucas – a grande expectativa dos fãs não era só pela continuação da saga da família Skywalker. Como vimos em O Despertar da Força, Os Últimos Jedi e A Ascensão Skywalker, filmes que dividiram os fãs, havia também um interesse vívido na “periferia” do universo Star Wars. O primeiro grande passo nesse sentido foi a super-produção Rogue One, filme que resgatou diversos elementos da trilogia original – mesmo sem precisar se prender a nenhum deles, nem mesmo aos personagens que apresentou.
O segundo grande acerto (tivemos o filme do Han Solo no meio do caminho, mas que não correspondeu às expectativas) foi a série The Mandalorian, feita com exclusividade para o serviço de streaming Disney+. Um excelente teste para identificar quais os limites do interesse do público, The Mandalorian consegue ser cativante mesmo com um protagonista que nunca mostra o rosto – mas, principalmente, pela certeira adição do queridinho-de-todos baby Yoda.
Com seu clima western, “The Mandalorian” nos remete a filmes como “O Céu Mandou Alguém”, de John Ford, em que três pistoleiros precisam cuidar de um bebê órfão (um dos pistoleiros é ninguém menos que John Wayne), ou mesmo o Pistoleiro Sem Nome, de Sergio Leone, imortalizado por Clint Eastwood. Temos uma figura solitária, melancólica e até mesmo amargurada. Ele é o mandaloriano do título, um caçador de recompensas – ele mesmo um órfão – com um rígido código de honra. Alguma coisa muda dentro dele, porém, quando ele encontra essa coisinha fofa da foto acima.
Os mandalorianos aparecem no universo expandido de Star Wars como um grupo multi-racial de mercenários e caçadores de recompensas, facilmente reconhecidos pelas suas icônicas armaduras. O mais famoso dele, sem dúvidas, é Boba Fett, o caçador de recompensas contratado por Darth Vader para capturar Han Solo em “O Império Contra-Ataca”. De poucas palavras, e nunca removendo seu capacete, Boba aparece muito pouco em “Império” e no filme seguinte, “O Retorno de Jedi” – mas ficou no imaginário dos fãs como um personagem que tinha mais, muito mais a oferecer.
Ficamos sabendo um pouco mais sobre Boba – e seu pai, Jango – em “O Ataque dos Clones”, mas ainda levariam longos 17 anos até podermos ver mais mandalorianos em ação. Quando a espera finalmente chegou ao fim, não decepcionou: pelo contrário, superou todas as expectativas do que significa estar à margem da saga Skywalker no universo de Star Wars.
Essa série é sobre o submundo sujo da galáxia, o underground das grandes sagas, palácios majestosos e astronaves capazes de cobrir o sol. É sobre fazer o serviço sujo pra ter o que comer, sobre honra, palavra e tradição, sobrevivência e resiliência. Da mesma forma que “Rogue One” nos lembrou porque Star Wars é tão emocionante, “The Mandalorian” dá um passo além. Não é um prequel, não tem amarras criativas ou cronológicas e pode ir pra onde quiser com sua narrativa – que, como eu disse no começo, é cheia de clichês. Mas é Star Wars. Não espere a reinvenção da roda, espere apenas se divertir e se emocionar, mesmo que a resolução possa ser vista chegando a quilômetros de distância.
Criada por Jon Favreau (diretor dos dois primeiros filmes do Homem de Ferro e que sedimentaram o caminho da Marvel no cinema), ele também é o principal roteirista e conta com um time de diretores que inclui Bryce Dallas Howard (filha de Ron Howard, diretor de “Han Solo” e atriz de filmes elogiadíssimos como Homem-Aranha 3 e Crepúsculo) fazendo sua estreia na direção e Taika Waititi (Thor: Ragnarok). O elenco conta com Pedro Pascal como Din Djarin, o mandaloriano do título, Carl Weathers, Werner Herzog, Gina Carano e Giancarlo Esposito, além de Nick Nolte, Richard Ayoade e Waititi provendo as vozes de alguns dos personagens não-humanos.
Tudo começa quando Din Djarin (até então chamado apenas de Mando, porque seu nome se perdeu há muito tempo entre o povo que o acolheu) aceita um “trabalho” de um cliente enigmático, ligado ao Império, para rastrear e capturar um elemento de uns 50 anos de idade. Trata-se, na verdade, de uma criança da espécie do Yoda, que tem um ciclo de vida muito diferente de um humanóide. Vale lembrar que, em “Retorno de Jedi”, Yoda morre aí com cerca de 900 anos.
Outra característica muito importante notar: essa espécie tem muitos sensitivos da Força. Mostrando sua total conexão com o que foi desenvolvido no cinema, o bebê-Yoda também exibe a habilidade de curar usando a Força.
Mando entrega a criança mas, sendo ele próprio um órfão, passa por uma crise de consciência e a resgata, quebrando as regras da guilda dos caçadores de recompensa. Ele arruma uma senhora treta com a guilda e foge, sob a cobertura de outros mandalorianos, para tentar manter a criança a salvo. No caminho, ele encontra uma ex-shock trooper rebelde, um aspirante a caçador de recompensas, um grupo de mercenários (com o qual ele compartilha um passado) que deve entrar e sair de uma prisão de segurança máxima e muitas outras figuras, mostrando o quanto o universo de Star Wars é vasto. Mais do que isso: quanto potencial ainda tem pra ser explorado.
Com muito ação, reviravoltas empolgantes, a dose certa de drama e humor, “The Mandalorian” triunfa principalmente pelo inusitado. Ele brinca com alguns elementos da cronologia, como a falta de pontaria dos stormtroopers e nos mostra como a galáxia se organizou após a queda do Império – um elemento que justifica o surgimento da Primeira Ordem anos mais tarde. Da mesma forma que “Rogue One” mostrou que há várias histórias que ainda merecem ser contadas, o mais importante é fazê-lo do jeito certo: com o mínimo de amarras cronológicas. Não dá pra mexer com a saga da família Skywalker, gravada em pedra e estabelecida para o cinema, uma mídia de muito mais investimento (e, consequentemente, menos afeita a correr riscos).
Para a TV e com orçamento mais “modesto” (cerca de 100 milhões de dólares, segundo o CEO da Disney Bob Iger, uma das poucas pessoas no mundo que podem se dar ao luxo de achar esse valor “modesto”), a maior preocupação é conseguir ter personagens cativantes que continuem trazendo o público de volta toda semana. A maneira como a Disney repensou sua estratégia após o fracasso do filme de Han Solo deixa claro que é necessário atacar outras frentes. A próxima será a série do Obi-Wan Kenobi, estrelada por Ewan McGregor, que muito possivelmente siga os passos de “The Mandalorian” (mas com um carismático ator principal já estabelecido). Mandalorian foi um risco mais calculado: podemos tentar um western? Podemos brincar com as espécies de alguns personagens? Podemos explorar melhor aspectos que estão de lado?
A resposta, claramente, é sim. A segunda temporada foi confirmada por Favreau ainda em julho, e já deve estar em desenvolvimento, considerando-se a boa recepção da primeira. E a próxima missão de Din Djarin tem tudo para ser ainda mais emocionante. This is the way.
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