One Punch Man é a aula que a DC necessita para reescrever o Superman
Como escrever um herói invencível? Alguém imbatível, com poderes além da imaginação? Como escrever sobre um ser com poderes de um deus? Esse é o velho dilema que a DC Comics convive desde a primeira Action Comics de 1938. A arte de como redigir o Superman.
Um herói não se faz apenas pelos seus feitos, mas também pela dificuldade de realizá-los. A superação e a entrega fazem parte da jornada heroica. E é essa luta, esse esforço, que gera a empatia do público pelo protagonista. E é ai que mora o problema do Superman. Como tornar crível que o filho de Krypton possa ter alguma dificuldade em vencer qualquer obstáculo que seja?
Ao longo das décadas a DC foi tentando reformulações. Na era de prata, nos anos 50, no auge de poder do personagem, a válvula de escape era a famosa “kryptonita”. A “fraqueza conveniente” servia como muleta para qualquer história do homem de aço, chegou a tal ponto que parecia que em toda esquina de Metrópolis havia uma bendita, que foi gradativamente ganhando variações, com versões de praticamente todas as cores do arco-íris.
Essas limitações e saídas narrativas fáceis foram cansando o personagem, levando a uma nova reformulação, a do “super da era de bronze” da década de 70. Histórias como “Kriptonite Nevermore!” E o arco do Superman de areia, pelas mãos de Denny O’Neil, tentaram o caminho inverso: O de reduzir os poderes do super e de terminar com a dependência narrativa da kriptonita. Essa temática, de um Super menos deus e mais humano, durou por um período, sendo que parte dessa ideia foi posteriormente resgatada no pós crise, através do Super do John Byrne.
Mas e o que One Punch Man tem a ver com todo esse dilema? Nascido de uma webcomic assinada pelo pseudônimo “One” e desenhada com um capricho digamos “infantil”, a história de Saitama, um ser com poderes ilimitados e seu dia a dia assolou a internet, gerando inúmeros fãs e levando a um mangá de sucesso e a um fantástico anime.
Em vez de criar fraquezas ou reduzir poderes, One Punch faz o contrário sua força: Ele abraça a invencibilidade e faz dela a base de sua narrativa. Saitama, o protagonista da série, tem o poder infinito e junto com ele o marasmo de não haver desafios a altura. A dificuldade do personagem está em sua luta pessoal para sentir emoção, para se entreter. De chegar ao ponto de se segurar para fazer com que a luta dure algo mais para ser menos monótona para ele.
E com isso ele faz amizades e conhece outros heróis, criando um rico universo de coadjuvantes (que vão desde o cyborg Genos até o mestre das artes marciais Silver Fang), todos bem escritos e carismáticos; além dos antagonistas, que embora estejam longe de ser qualquer tipo de obstáculo físico para o poder de Saitama, trazem um charme a mais para essa ótima narrativa. Afinal o que seria de um herói sem seus vilões e aliados?
Talvez aí, afinal, esteja a resposta que a DC tanto procurou: Não adianta mudar a essência do Superman, ele é o que é, um Deus entre os mortais, criado por pais adotivos no interior do Kansas, com a moral inabalável de um escoteiro. Seu poder imensurável é parte inerente do personagem e tentar fugir disso é a mesma coisa de tentar escapar de um soco do Saitama. Fútil e inútil.
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