Os 50 Anos do Primeiro Disco do Black Sabbath

Os 50 Anos do Primeiro Disco do Black Sabbath: Sexta-feira, treze de fevereiro de 1970, Birmigham, Inglaterra.

O som de sinos era o prenúncio de uma tempestade. A partir de então, a música jamais seria a mesma novamente.

O primeiro álbum do Black Sabbath, como se não bastassem seus inúmeros predicados, marcou o surgimento do heavy metal, sendo considerado o primeiro álbum totalmente dentro do estilo. Isso porque, antes dele, discos muito pesados de seus conterrâneos Led Zeppelin e Deep Purple já haviam sido lançados – mas nenhum calcado tão fortemente na intensidade das guitarras, da primeira à última música.

Os Quatro Cavaleiros de Birmigham

Curioso se pensarmos que esse disco foi o resultado do esforço coletivo de quatro garotos vindos da classe trabalhadora, sem muita grana e nenhuma perspectiva. Tony Iommi, o guitarrista, perdeu as pontas de três dedos da mão direita num acidente com um torno mecânico, o que fez com que ele precisasse improvisar “dedais” que lhe permitiram continuar tocando. O quanto isso afetou seu estilo, não sabemos – mas os riffs pesados, hipnóticos e cheios de peso tornaram-se uma marca registrada da música pesada. O baterista Bill Ward era outro que compensava a falta de técnica com muita garra. Suas viradas eram inacreditavelmente precisas e a empolgação com que esmurrava as peles só se comparava à seu gosto por bebida. Suas excentricidades tornaram-se lendárias. O baixista Geezer Butler, por sua vez, tinha uma técnica espetacular, desfilando arranjos elaborados por trás dos riffs simples de Iommi. Ele também escrevia a maioria das letras das músicas, sobre qualquer tema que lhe viesse à cabeça, o que ajudou a dar uma identidade marcante para a banda.

E tinha o vocalista.

Não há muito que ainda não tenha sido dito a respeito de Ozzy Osbourne. Com técnica nula, dislexia e déficit de atenção que o impediam de colaborar ativamente com o processo de composição e muitos demônios interiores, o que ele fazia era colocar tudo pra fora no palco. Seu carisma e a garra com que cantava tornaram-se lendários, perdendo apenas para as histórias que cercavam seu nome (como arrancar a cabeça de um morcego a mordidas e ser preso por mijar no monumento histórico do Álamo).

O encarte das primeiras versões em vinil

Esses quatro desajustados se reuniram no Regent Sound Studios em Londres para registrar, pela primeira vez, o pessimismo que marcava suas vidas. De saco cheio dos hippies e sua filosofia “paz-e-amor”, eles viam um mundo muito mais sombrio, triste e perverso. A banda foi batizada quando eles se depararam com uma fila de pessoas no cinema esperando para ver o filme “Black Sabbath”, de Mario Bava. “Se pagam pra sentir medo num cinema, vão pagar pra sentir medo ouvindo nossa música também”, pensaram. E deu certo. Cada um desses quatro elementos encaixou seus talentos de uma forma única, que dificilmente poderia ser repetida, mas com um fator fundamental: eles eram os pioneiros. Chame de hard rock, heavy metal, doom metal, sludge ou o rótulo que preferir. Eles chegaram primeiro.

E o som de sinos em uma tempestade abre o disco e a primeira faixa, que dá nome à banda, uma história de terror horripilante e sem final feliz. A segunda faixa, “The Wizard”, fala de Gandalf, o arquétipo do mago dos livros “Senhor dos Anéis”, com uma introdução de gaita que ajuda a manter o tom fúnebre. “Behind the Wall of Sleep” é cheia de variações rítmicas e experimentações, ampliando as fronteiras do que apresentaram nas duas primeiras faixas.

Quem sabe faz ao vivo

É quando entra a empolgante “N.I.B.” (sigla cujo significado original se perdeu), com uma introdução de baixo que puxa um riff mais “dançante”. A letra, um ótimo exemplo do senso de humor distorcido de Geezer, é sobre o demônio se apaixonando e mudando completamente, se tornando uma pessoa… boa.

Agora nosso amor cresce a cada instante
Olhe em meus olhos, você verá quem eu sou
Meu nome é Lucifer, por favor pegue minha mão

Em seguida temos um cover da obscura banda Crow, “Evil Woman”, que acabou se adequando bem ao som do Sabbath. Já “Sleeping Village” começa com um lindo dedilhado e um sutil som de uma Jew’s Harp (instrumento semelhante a um tipo de berimbau), antes de se tornar outra viagem por riffs e mudanças de tempo. Outro cover, dessa vez “Warning” do The Aynsley Dunbar Retaliation, mostra que eles não têm medo de se arriscar e roubar a alma das músicas de outros artistas.

Relançamentos desse disco ainda contam com “Wicked World”, uma música com introdução mais rápida, mas com um andamento parecido com “Into the Void” nos versos. Diferentes reedições em CD ainda contam com outros bônus.

A arte da capa, uma bruxa diante de uma antiga igreja, é na verdade uma foto tirada em um moinho em Oxfordshire. Pouco se sabe sobre a modelo que posou para a agora clássica capa. Curiosamente, minha filha de oito anos acha essa capa fascinante e adora a faixa-título. Vai entender.

O moinho está lá até hoje

O disco levou o Black Sabbath ao redor do mundo, e sua música os tornou lendários. Não demorou para que outras bandas começassem a seguir seus passos e, principalmente no final da década de 70, o rock pesado começasse a se ramificar em diferentes estilos. Os próprios integrantes do Black Sabbath não curtem muito o rótulo “heavy metal”, se considerando apenas uma banda de rock bem pesado. Mas eles estão cientes de que todo mundo que veio depois, de Slayer a Marylin Manson, de Motorhead a Korn, passando por Venom, Megadeth e Faith No More, todos devem suas carreiras ao que aqueles quatro garotos pobres de Birmigham começaram. Sob o som de sinos em uma tempestade.

What is this that stands before me?

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Raul Kuk o Mago Supremo

Raul Kuk - o Mago Supremo. Pai de uma Khaleesi, tutor de uma bruxa em corpo de gata.

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