Ouvimos O Novo Álbum do Pineapple Thief!
Ouvimos O Novo Álbum do Pineapple Thief: Deve ser muito difícil pra uma banda, qualquer banda, fazer um álbum conceitual que seja mais do que “contar uma historinha”. Claro, os clássicos álbuns de King Diamond e pérolas do porte de “Crimson Idol” (W.A.S.P.) e “Operation: Mindcrime” (Queensryche) são muito bem sucedidos em transformar as músicas em uma linha narrativa. Mas e quando não se trata de uma história, mas sim de um conceito – uma ideia?
Podemos citar aí “Thick As A Brick”, do Jethro Tull – um ataque frontal à percepção de música, tanto pela mídia quanto pelos fãs e pela própria banda, e “The Division Bell”, do Pink Floyd, sobre comunicação. Pegar uma ideia e dissecá-la ao longo das faixas do álbum parece algo capaz de limitar uma banda mas, no caso do The Pineapple Thief, é uma jornada absolutamente libertadora.
O novo álbum, “Versions of the Truth”, é um ótimo exemplo. Incisivo, profundo e intimista, ele capta uma série de frustrações sobre a mídia e como ela nos afeta em tempos de pós-verdades e tendências absolutas nos atingindo em ondas, com seus cancelamentos e falsa simetria como princípio argumentativo.
Não à toa, a faixa-título que abre o álbum é marcada pela frase “Não é assim que eu me lembrava disso”. Musicalmente, ele marca o auge da coesão entre Bruce Soord, Gavin Harrison, Jon Sykes e Steve Kitch. Nada é exagerado ou desperdiçado, num álbum com 10 faixas de 4min30s em média. “Di§olution” pode ter sido o álbum que fez os ladrões de abacaxi subirem de nível – “Versions of the Truth” é o álbum que prova que eles merecem ficar.
A abertura tem um clima que vai se tornando cada vez mais empolgante, até despencar no riff pesado de “Break It All”. A sequência é com o single “Demons”, que nós já tinhamos comentado aqui. As coisas ficam mais calmas com a delicadeza de “Driving Like Maniacs”. É onde a pós-verdade trata de corações partidos, e não de alguma metáfora política de nossos tempos – mas foi isso em todas as faixas até agora ou ele tem mais a oferecer do que parece? “Leave Me Be” responde essa pergunta, com o volume mais alto: “Não é assim que costumava ser, o que você me contou era uma mentira”.
“Too Many Voices” volta a puxar o freio de mão, com um clima intimista e introspectivo, sombria e melancólica. “Our Mire” vai numa direção completamente diferente, mais vibrante e com um excelente trabalho da cozinha. Pra ouvir com atenção e se admirar. “Out Of Line” é outra que vai mais devagar até chegarmos a “Stop Making Sense”: ela começa depressiva, um lamento delicado sobre um sutil som de marimba (!). A música é praticamente o prenúncio de uma tempestade: o encerramento com “The Game”. Como em muitas discussões sobre a verdade, ela nos deixa sem uma resposta exata. Tudo que temos são pontos de vista, conduzidos com maestria por quatro músicos brilhantes em um álbum que parece pequeno demais para conter tamanha genialidade.
Musicalmente, eu senti que “Di§olution” teve mais momentos marcantes, com músicas mais fortes e com um apelo mais pesado. Mas não resta dúvida de que o ponto forte deste “Versions of the Truth” está na coesão atingida pela banda, nos conduzido ao longo da música para uma viagem, ora angustiante, ora catártica. Não é o tipo de disco que você deixa pra tocar enquanto está lavando louça: é preciso ser apreciado com atenção, deixando as letras comporem o resultado final. Poucos conseguem ter essa profundidade hoje em dia.
The Pineapple Thief – Versions of the Truth
Kscope Records
Produzido por Soord, Harrison, Sykes e Kitch
1 – Versions of The Truth
2 – Break It All
3 – Demons
4 – Driving Like Maniacs
5 – Leave Me Be
6 – Too Many Voices
7 – Our Mire
8 – Out of Line
9 – Stop Making Sense
10 – The Game
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