RAMBO II – A missão de transformar um personagem e definir um estilo

O ano era 1985 e a guerra fria ocupava grande parte do imaginário americano quando chegou às telas de cinema “RAMBO – First Blood Part II”, aqui no Brasil brilhantemente intitulado de RAMBO II – A Missão (que casa muito mais com o filme).

O filme foi solicitado pelo grande sucesso de seu antecessor, “RAMBO – Programado para Matar” (First Blood), de 1982. Aqui, encontramos nosso amigo John Rambo cumprindo pena pelos eventos mostrados no primeiro filme e recebe a proposta de seu talvez único amigo, o Coronel Trautman (Richard Crenna) para participar de uma missão do governo em troca do perdão pelos seus crimes.

Essa missão consiste em retornar ao Vietnã e tirar fotos de um suposto campo de prisioneiros. Neste ponto já notamos a disparidade de rumos que a franquia seguia, já que no primeiro filme Rambo é atormentado pelos ecos da guerra. Era de se imaginar que jamais iria querer botar os pés em solo vietcongue novamente. Não é isso o que acontece.

A estranheza também se faz presente em algumas questões: Por que um ex-soldado que havia causado tanta destruição seria solto? E por que esse mesmo soldado incontrolável seria enviado numa missão para verificar um erro do governo?

Bem, Rambo recebe as instruções e parte para a selva. Lá, depois de conhecer seu contato, a agente Co Bao (Julia Nickson em seu primeiro papel), acaba realmente descobrindo prisioneiros e decide resgatar um deles, servindo assim de prova para justificar um retorno. Traído por Murdock (Charles Napier) é capturado pelos vietnamitas e russos que capitaneiam a instalação.

Ele é torturado, consegue fugir com a ajuda de Co Bao, que morre pouco mais tarde, colocando a cereja de fúria que faltava no bolo de vingança de Rambo, que retorna e literalmente dizima todo o pequeno exercito que mantinha os prisioneiros americanos, os resgatando e retornando à base.

O filme é repleto de frases de efeito e que se tornaram inesquecíveis, como a icônica “Murdock I’m coming to get you!”; “o que você chama de inferno, ele chama de lar”; ao cravar sua famosa faca ao lado do rosto de Murdock e dizer “Missão cumprida!” e o discurso final do soldado (“quero que o país me ame assim como eu amo meu país”). Outras, passaram desapercebidas por anos, como quando, antes de ser capturado, Rambo conversa com Co Bao e diz que é “dispensável”. No original “I’m expendable”. Expendables é o nome original de “Os Mercenários”, filme feito por Stallone 25 anos depois do lançamento de RAMBO II.

Rambo II também é uma verdadeira coleção de cenas clássicas, como o amarrar da faixa na cabeça, a cena em que Rambo se esconde na lama ao emboscar um soldado, o salto da barca prestes a explodir, a cena do rio onde ele mira tranquilamente seu arco e explode um vietnamita, a cena onde ele metralha o quartel de Murdock… São muitas.

O roteiro de RAMBO II foi escrito pelo próprio Sly e ninguém menos que James Cameron. Este, ainda não tão famoso, mas já com trabalhos expressivos, acabou abandonando o barco por problemas com a agenda e também problemas de divergência criativa com Stallone. Sua tratativa de roteiro tinha foco total na ação e um parceiro para Rambo, um personagem militar e que seria interpretado por John Travolta. Stallone vetou.

Com a saída de Cameron, Stallone reescreveu boa parte do roteiro, adicionando mais “sentimento americano” à trama. Não que o filme seja lembrado pelo roteiro – muito pelo contrário, é deveras inferior ao primeiro. Stallone mudou o personagem, transformando-o num supersoldado imbatível e que, de forma simbólica, traria a redenção do país em relação ao Vietnã. Talvez esses elementos tenham sido fundamentais para que a produção seja a mais lucrativa de sua carreira, já que na época rendeu mais de U$300.000.000. O filme foi dirigido por George P Cosmatos.

RAMBO II é meu filme predileto da franquia à despeito de ter um roteiro fraco, afinal, esse filme foi um dos precursores do estilo “tiro, porrada e bomba” e não dá para se esperar um roteiro imersivo num filme de ação dessa natureza.

Aqui é Rambo, pô! E quem não gosta, bom sujeito não é!

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Fabiano Souza

CAPITÃO no meio campo, escreve textos e destrói falsos deuses antes do café da manhã

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