RAMBO IV
”Viva por nada ou morra por alguma coisa!”
O ano era 2008. Eu e minha pequena estávamos num daqueles chatíssimos jantares com um casal de amigos. O cara não abria a boca, o que eu achava ótimo e o imitava com maestria. Mas as nossas namoradas, ahhh meu amigo…. Elas falavam 20 minutos em 10…
Em certa altura daquela conversa que mais parecia um mercado de peixe, Lilica, que viria a ser nossa madrinha de casamento, sacou de sua bolsa duas entradas para o cinema, que ela havia ganhado em uma gincana no escritório aquela semana e, com ares de desdém, indagou: “Quem vai querer assistir a isso?”.
“Isso”, meus amigos, era nada mais nada menos que JOHN RAMBO, ou RAMBO IV, como fora batizado aqui no Brasil. Tão rápido quanto uma flecha derrubando um helicóptero, eu enrolei um guardanapo e, amarrando-o à minha cabeça, gritei com a faca nos dentes: MURDOCK, EU VOU TE PEGAR!
Fui expulso do restaurante, mas fui ao cinema no dia seguinte, sei lá! Eu, um hamburguer e uma coca. Na sala? NINGUÉM! Só eu sozinho… Estava perfeito!
Quando SYLVESTER STALLONE, 61 anos à época das gravações, decidiu filmar mais um RAMBO, ele sabia que seria melhor abandonar a ideia de um veterano da guerra do Vietnam atormentado pelos seus demônios. Afinal os anos 80 e toda a chamada ERA REAGAN haviam ficado para trás.
STALLONE decide inserir seu personagem dentro da mais antiga guerra civil acontecendo no mundo àquele momento. Ele queria que o filme tivesse mais do que apenas lucro, o que o levou a colocar o filme no meio do mais brutal conflito global em andamento e que era basicamente ignorado pelo público e pela mídia.
STALLONE conversou com especialistas internacionais das Nações Unidas, que lhe contaram sobre o assassinato em massa de pessoas de etnia Karen na Birmânia, atual Myanmar, por forças militares. Ele então soube que esse era o conflito para RAMBO IV, já que a Birmânia ficava ao lado da Tailândia, local de fácil acesso e trânsito para a produção.
Sendo assim, JOHN RAMBO, 20 anos após os eventos mostrados em RAMBO III, vive agora nas selvas da Tailândia, caçando e vendendo cobras para o mercado local e navegando os rios da região com seu barquinho. Ele está em paz, mas quando um grupo de missionários pede a ele que os leve até a Birmânia, seus problemas estão apenas começando.
Primeiro filme da franquia dirigido e também co-roteirizado por SYLVESTER STALLONE, RAMBO IV tem o gore avançado! Filmes como SEXTA FEIRA 13, JOGOS MORTAIS ou O ALBERGUE? Esqueçam! São 263 mortes, e elas acontecem em close, explícitas ao extremo, corpos explodindo, crianças sendo baleadas… uma delas inclusive sendo arremessada pra dentro de uma casa pegando fogo. Ou seja: SENSACI…QUE HORROR!!!!!
O filme foi proibido em Myanmar. Além disso, durante e após as filmagens muita tensão foi gerada após nosso herói da vida real STALLONE ter presenciado os maus tratos à população local e ter se indisposto com o governo local.
Os combatentes da liberdade birmaneses adotaram até o diálogo do filme como gritos de batalha, principalmente a frase “VIVA POR NADA OU MORRA POR ALGUMA COISA”. STALLONE disse: “Esse, para mim, é um dos momentos de maior orgulho que já tive no cinema”. O ator Maung Maung Khin, que interpretou o ditador birmanês Tint, lutou pelos rebeldes de Karen na vida real.
Com um elenco sem grandes estrelas, podemos destacar JULIE BENZ, a eterna esposa de DEXTER MORGAN na série homônima, que foi convidada a estrelar a produção porque STALLONE gostava da série.
Foi o primeiro filme em que RAMBO usa pistolas. Além disso, é o primeiro filme da franquia que não tem um helicóptero e, ainda mais surpreendente, é o primeiro em que RAMBO não tem uma cena sequer sem camisa, mostrando seus músculos, e isso por causa das tatoos que STALLONE havia feito nos ombros.
A cena final de RAMBO IV é poesia pura. Uma cena para reflexão, para que com ela discutamos todo o sentido da vida. Após mutilar 3 pessoas por minuto no filme (é sério) e resolver o problema dos missionários americanos que haviam sido sequestrados pela polícia local, JOHN RAMBO volta, enfim, para a fazenda de sua família em BOWIE, ARIZONA. Um lugar pequeno, como ele mesmo diz. Alí, com apenas uma mochila nas costas, ele caminha por exatos cinco minutos em direção a casa. Impossível você, tiozinho como eu, não se lembrar do seriado do HULK que sempre terminava com DAVID BRUCE BANNER indo embora sozinho enquanto tocava aquele pianinho…