REI LEÃO: REINVENÇÃO DE UM CLÁSSICO

Em 1994, quando os primeiros acordes da música CIRCLE OF LIFE ecoaram nos altos faltantes dos cinemas, o público pego de surpresa já sabia que estava diante de algo diferente dos tradicionais desenhos da Disney.

Contando a história do filhote Simba (Matthew Broderick), que sentindo-se culpado pela morte do pai, o Rei Mufasa (James Earl Jones), foge do reino, deixando-o sob os “cuidados” do seu tio Scar (Jeremy Irons), o filme trazia uma adaptação de Hamlet, de Shakespeare, em um contexto muito mais adulto do que as crianças da época estavam acostumadas.

Com uma trilha sonora inspirada de Hans Zimmer, músicas de Elton John e Tim Rice, o filme logo tornou-se um clássico absoluto, garantindo as estatuetas do Oscar de Melhor Trilha Sonora Original (Hans Zimmer) e Melhor Canção Original (Can You Feel The Love Tonight), além do Globo de Ouro de Melhor Filme Musical ou Comédia.

O Rei Leão acumulou quase um bilhão de dólares em bilheterias ao redor do mundo, tornando-se o filme de animação desenhado a mão de maior público e gerando uma infinidade de produtos relacionados, incluindo uma muito bem sucedida adaptação teatral para a Broadway (que segue em cartaz desde 1997), duas sequências feitas diretamente para vídeo (Rei Leão 2 e 3, esquecíveis) e duas séries de desenhos para a televisão (Timão e Pumba e a Guarda do Leão).

Com esse belo “currículo”, não era de admirar que o filme estivesse no radar da Disney assim que ela começou a recriar seus maiores clássicos em Live Action.

Jon Fraveau, que já tinha sido responsável por dar vida ao Homem de Ferro – e por consequência a todo o Universo Marvel dos cinemas – dirigiu a adaptação “em carne e osso” de Mogli – O Menino Lobo, em 2016. Trazendo o personagem título (Neel Sethi) interagindo com a Pantera Bagheera (Ben Kingsley), o urso Baloo (Bill Murray) e fugindo do tenebroso tigre Shere Khan (Idris Elba), Fraveau provava que, através da tecnologia, era possível criar animais selvagens perfeitamente reais, capazes de falar e de “atuar”.

Com a boa recepção do público e crítica, a Disney e Fraveau decidiram dar um passo a frente e, ainda em 2016, anunciaram o projeto de fazer o remake “live action” do grande clássico de 1994.

O novo Rei Leão mais uma vez toma o publico de assalto já em seus acordes iniciais, mantendo a força da canção CIRCLE OF LIFE e recriando a abertura do desenho de 1994 nos mínimos detalhes, só que mostrando animais e locações com um realismo de tirar o fôlego.

Favreau entende a força do clássico e não mexe em time que está ganhando. Conhecendo o poder da história e das canções na mente do público que literalmente cresceu com a animação, ele mexeu muito pouco no enredo, apenas alterando de forma sutil um ou outro diálogo, sem criar novas estórias paralelas ou se aprofundar em novos personagens.

O grande desafio do remake, afinal, não era recontar uma estória conhecida, e sim fazê-la de forma convincente utilizando apenas animais “reais”. Se no desenho a força das expressões faciais dos animais é que os tornavam carismáticos e queridos, ao optar por fazer uma versão “live action”, a dependência do projeto fica totalmente sobre o visual e as vozes dos dubladores, e felizmente nenhum dos aspectos decepciona.

Independente da qualidade do filme, ou do gosto pessoal do público – acreditem, tem gente que assiste a um remake e reclama da sensação de “requentado” – a qualidade dos efeitos visuais é uma verdadeira revolução na indústria do cinema, pois foram quebradas quaisquer barreiras do que pode ou não ser criado no cinema. Considerando-se que todas as sequencias apresentadas foram criadas digitalmente e não houve nenhum tipo de filmagem externa, o resultado final é impressionante pela perfeita caracterização dos animais e do meio ambiente que os cerca.

Em relação ao elenco de vozes, Fraveau acerta em cheio ao entender que a voz de Mufasa seria impossível de ser substituída e manter James Earl Jones no papel do maior Rei Leão, mantendo a sabedoria e a imposição inesquecível apresentada no clássico de 1994.

Donald Glover substitui Matthew Broderick como Simba, apresentando um trabalho razoável, porém longe de ser inesquecível, mas que mostra seu talento nos números musicais, especialmente no seu dueto com Beyonce.

Beyonce não tem muito o que apresentar como Nala, pois tem poucos diálogos, mas mostra a potência da sua voz na nova versão de Can You Feel The Love Tonight, além de emplacar uma canção original, Spirits.

Quem mais uma vez rouba a cena, sem sombra de dúvida, são Timão (Billy Eichner) e Pumba (Seth Rogen). Suas participações sempre são as melhores do filme, com um trabalho vocal impressionante, especialmente de Rogen como Pumba, que sabe muito bem aproveitar a burrice e o carisma um pouco emaconhado do Javali, e que brilha na interpretação perfeita do hino Hakuna Matata.

A DCpção fica por conta, mais uma vez, do vilão. Apesar do trabalho de Chiwetel Ejiofor ser impecável como o vilão Scar, fica IMPOSSÍVEL esquecer da magnífica atuação de Jeremy Irons, e segue inexplicável o fato dele não ter sido convidado novamente para reprisar seu icônico papel. Da mesma forma, a canção BE PREPARED, interpretada de forma magistral por Irons na animação de 1994, aparece aqui completamente descaracterizada, já que além de reescrita e cortada, Chiwetel claramente não tem o talento musical necessário para o que a canção pedia.

Apesar desses pequenos deslizes, o Rei Leão é um filme que já nasce clássico, carregando o peso de seu antecessor nas costas, trazendo apenas o apurado e absurdo desenvolvimento visual que atualiza com honra o melhor desenho da Disney de todos os tempos.  

Na medida do possível, opte pelo áudio original. A Disney, que sempre preza pela excelência nas dublagens brasileiras, dessa vez pisou feio na bola. A dublagem em português ficou amadora e sem personalidade nenhuma, especialmente a Nala da cantora IZA, que simplesmente arruína o filme cada vez que a personagem abre a boca, prejudicando imensamente a experiência

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Marcio Fury

Escritor, revisor, colecionador e pai nas horas vagas. É o melhor no que faz, mas o que faz não é nada bonito.

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