Resenha de Superman: Red Son – o Filme Animado!
Resenha de Superman: Red Son – o Filme Animado: Mark Millar é um escritor brilhante. Não há a menor dúvida disso, especialmente quando lemos Superman: Red Son (“Entre a Foice e o Martelo”, no Brasil), um exercício de criatividade fantástico, em que o renomado autor de “Os Supremos” e “Guerra Civil” tira o Homem de Aço do contexto a que estamos familiarizados e o coloca na União Soviética, em plena Guerra Fria. Com uma caracterização dos personagens primorosa, Millar entrega um conto fascinante, onde todos os principais protagonistas são facilmente reconhecíveis pelas suas qualidades mais importantes, mesmo num contexto histórico (e cronológico) completamente diferente.
A adaptação animada do gibi, no entanto, não tem a mesma classe. O longa dirigido por Sam Liu (cujos créditos como diretor incluem “A Morte do Superman” e “Batman: A Piada Mortal”) conta com roteiro do veterano J.M. DeMatteis, mas perde a sensibilidade de Millar para enxergar as pequenas histórias dentro do panorama maior.
O triângulo amoroso entre o frio e distante Lex Luthor, a intrépida repórter Lois Lane e o idealista Superman soviético foi diluído, com um Luthor mais atencioso (e até romântico). O sutil jogo de xadrez entre Luthor e Superman se transforma numa batalha maniqueísta, pois esse Luthor com mais coração tem seu contraponto em um Homem de Aço mais vilanizado. A espetacular mini-série, leitura obrigatória de qualquer fã dos quadrinhos, se torna uma história um pouco menor – mas só um pouco. Não chega a ser ruim, panfletária ou pretensiosa.
Tudo começa em 1938, quando, ao invés do Kansas, a nave que traz o bebê Kal-El para a Terra cai numa fazenda coletiva na Ucrânia. O “nosso” Superman foi criado por um casal bondoso, que lhe deu os parâmetros morais para usar seus poderes com sabedoria e responsabilidade. O Superman soviético é criado pelo Estado, o que lhe dá um senso de que “os fins justificam os meios”, mesmo quando usa meios abomináveis e mesmo quando ele próprio se utiliza de recursos que considera condenáveis.
Superman teme, por exemplo, que Luthor convença a Mulher Maravilha a se voltar contra ele – afinal, o próprio Luthor fez Superman se voltar contra Stalin. A manipulação é hedionda aos olhos de Superman – que faz lavagem cerebral em cientistas e inimigos políticos para que eles trabalhem para o Estado. Até mesmo seu antigo inimigo Brainiac é reprogramado para lhe servir (ou, ao menos, é isso o que ele é levado a pensar). Ainda temos a Tropa dos Lanternas Verdes ligada ao infame episódio de Roswell e um Batman terrorista capaz de fazer inveja a Zack Snyder, que só não triunfa por muito pouco.
Cabe a Luthor fazer o papel de herói – ou, ao menos, de antagonista. Superman não luta pela verdade, justiça e modo de vida americano, mas tem suficiente do coração do personagem criado por Siegel e Shuster para não deixar que a nacionalidade ou fidelidade política ofusquem seus maiores ideais: lutar pelos mais fracos, pelos que não podem se defender, os que mais precisam dele. A mensagem final de Luthor no gibi se perde (“ele realmente tinha umas ideias muito boas”, mostrando o equilíbrio Yin/Yang entre os dois), mas não é só isso que fica de fora no final.
Mas esse é o ponto de vista de alguém que leu o gibi e o considera um dos melhores contos do Homem de Aço. O filme animado se mantem por si só, com suas virtudes e (muitas) qualidades. A ideia central, de que a polarização política não funciona e ver o outro lado como “o inimigo” é simplória e limitada, está lá. Tudo isso muito bem encaixado dentro do panteão de personagens que compõem a mitologia do maior herói de todos os tempos – e se mantém assim até o final.
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