STAR WARS – Episódio I – A PALHAÇADA FANTASMA

Era 1999! Eu, um jovem mancebo, estava ansioso para ver o início da nova trilogia do mestre Lucas. O hype era grande; grande não, o hype era enorme! Esperava-se muito do retorno de Star Wars para telona, de ver finalmente o início da saga dos Skywalkers, da Ascenção e queda de Anakin, o futuro Darth Vader.

Eu mesmo fui preparado para não perder nenhum detalhe! Pipoca na mão, refrigerante na outra, bexiga vazia após uma bela mijada, foco única e exclusivamente para o filme, tendo evitado todo e qualquer possível spoiler para não estragar aquele momento único para o qual, logicamente, eu tinha ido sozinho. Aquele era um dia de prazer onanista, nada poderia perturbar meu reencontro com minha paixão da mais tenra infância. Além disso a namorada já havia avisado que nem amarrada iria para “filme de nerd”… Ok! Problema dela! Prioridades em primeiro lugar! Agora era só eu, George Lucas e o cosmos!

As luzes se apagam! O refletor se acende! E após alguns trailers, sendo um deles de um tal de “Matrix”, o filme finalmente começa! Quer dizer, até hoje eu espero o filme com o qual eu sonhava começar, porque o que se sucedeu foram mais de duas horas de uma terrível e interminável tortura…

Logo de cara, com o letreiro introdutório subindo, já vamos percebendo que tem algo de muito errado na película… Somos introduzidos a uma bizarra “disputa comercial”, de rotas da “Federação do Comércio”, que resolve fazer um “bloqueio orbital” no planeta de Naboo, até que o mesmo se renda a um acordo com a federação. Para tentar intermediar a zona política, o mestre jedi Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) seu padawan Obi-wan Kenobi (Ewan McGregor) são chamados para interceder com a federação para resolver o impasse.

Claro que o negócio desanda, e eles saem fugidos da nave capitania da federação do comercio, indo parar no meio de um floresta em Naboo. Mas, graças ao poder da Força, eles encontram ajuda, na figura de um nativo local, Jar Jar Binks (eu devia ter parado aqui e saído do teatro, mas esperança de fã é grande, e segui em frente). Jar Jar é o alivio cômico que nos faz chorar, chorar de desespero a cada cena bizarra e medíocre, de um humor raso e datado, comprometendo ainda mais a qualidade da sofrida película.

A sucessão de eventos desde o encontro de Jar Jar, a ida a cidade submersa dos Gungans, até chegar e resgatar a rainha Amidala (Natalie Portman)  servem apenas para um único propósito: Enaltecer as capacidades em efeitos visuais da Lucasfilm e só, porque enredo que é bom, não há! (E nem haverá!). Depois de combater uns droids, umas naves, e fugir de Naboo, nossos heróis acabam com o foguete avariado, tendo que dar uma parada num distante e perigoso planeta desértico: Tatooine.

O legal de Tatooine é que seu cenário seco e sem vida combina como uma luva para o enredo repetitivo e vazio do filme. Na tentativa de encontrar as peças para a nave avariada, Qui-Gon acaba encontrando a loja do ganancioso comerciante Toydariano Watto. Mas o que mais chama atenção do mestre Jedi é a jovem criança escrava que trabalha para ele: Anakin Skywalker (Jake Lloyd). Logo Anakin forja amizade com Qui-Gon e a “camareira da rainha” (que na verdade era Padmé disfarçada), levando-os até sua casa, onde apresenta a sua mãe, também escrava, Shmi Skywalker.

Logo o mestre Jinn percebe que a força era muito forte em Anakin, e ai começa mais um show de bizarrice do enredo: Shmi engravidou “espontaneamente” do Anakin, ou seja, imaculada Concepção, o escolhido da força deu uma de Jesus Cristo e resolveu nascer de uma virgem no meio do deserto. Para confirmar a capacidade do rapaz é colhido um pouco de sangue do garoto, a fim de dosar os Midi-Chlorians, sendo a concentração dos mesmos maior até do que no sangue do mestre Yoda

Mas afinal, o que são Midi-Chlorians? Com vocês a explicação do mestre Qui-Gon:

“- São seres de vidas microscópicas inteligentes que vivem no interior de suas células. Sem as midi-chlorians, a vida não poderia existir, e nós não teríamos conhecimento da Força.”.

Nessa terrível hora eu tive enfim a certeza de que deveria ter saído correndo do cinema na primeira aparição de Jar Jar binks. Mas agora era tarde! Por puro masoquismo deveria ver esse atentado até o final! Poxa, tinha acabado de descobrir que a Força não é apenas uma profunda questão filosófica ou religiosa para tingir algo abstrato, além das capacidades mortais! Nossos jedi vivem com simbiontes, tal qual um Venom da vida, que servem de antena de rádio para captar a Força! Sem a antena, sem sintonia! Talvez com um yakult de lactobacilos mid-chlorians dê para dar aquele boost na força depois de uma diarreia… Eh, meus amigos, já que estamos no fundo do poço vamos até o final para ver no que vai dar! O que é um peido para quem já tá todo borrado mesmo?

Anakin, além de tudo era um gênio cientifico, um prodígio capaz de construir seu próprio dróide de protocolo (que coincidentemente era o C3PO) e um pod mais veloz de Tatooine! Ah, você não sabe o que é um Pod? Relaxe! Basta saber que é uma espécie de biga flutuante e que teremos uma “emocionante” corrida, visivelmente chupinada do clássico Ben-Hur, valendo a liberdade do Skywalker e as peças de reparo da nave. Ou seja, basicamente mais um momento para a Lucasfilm brincar com suas capacidades em CGI. O melhor da corrida foi a metalinguagem com o Jabba the hutt dormindo no camarote e tendo que ser acordado logo após o fim da mesma. Jabba, nesse caso, representa o espectador que custa a não cair no sono com tanta mesmice. (ah, óbvio, Anakin vence, né! Como poderia ser diferente?).

Anakin se despede da mãe e parte com Qin-Gon para a liberdade, com a promessa de ser levado para ser um Jedi. Mas na hora que estão embarcando o mal, enfim, aparece! O aprendiz de Darth Sidious, o terrível  Darth Maul! E finalmente, após morosos 59 minutos de projeção, temos UM DUELO DE SABRE DE LUZ! Mas a alegria dura pouco, o duelo dura segundos, até que Qin-Gon é resgatado e a nave parte para o planeta capital da República, Coruscant.

E aqui chegamos na parte “TV senado” de nosso filme! As cenas em Coruscant são monótonas e tediosas, com o Senador de Naboo, Palpatine, manipulando a todos com seus jogos mentais, a fim de dar um golpe constitucional na Republica e se eleger Chanceler (ah, a vida imitando a arte…). Palpatine, debaixo do nariz do poderoso conselho Jedi, é na verdade o Sith Lord Darth Sidious! (Má vão ser burros esse jedi lá em Tatooine, hein? Tá na cara! Só não vê quem não quer! Yoda devia tá é precisando de óculos!).

Enquanto temos nossos sonolentos momentos na Tv Senado, o jovem Skywalker é levado para avaliação no Conselho Jedi. Yoda, apoiado pelo Mestre Windu, percebe, além do grande poder, forte medo no garoto. E esse medo poderia levar ao ódio e enfim ao temido lado sombrio… Agora vejamos, claro que uma criança, recém saída da escravidão, está morrendo de medo do futuro que sua mãe terá após deixá-la. Ai, ao invés de abraçar e acolher a criança, o Conselho manda um “se saia! Há muito medo em ti e tu tá velho demais pro treino!”. Que incrível grupo inclusivo, hein? Ah, aproveitando, se Anakin, uma criança, é considerada velha demais para ser jedi, Luke adolescente era o que? Um ancião?

Bom, depois de jogar merda no ventilador na sessão senado, e fazer exatamente o que Palpatine queria, Padmé, vendo a morosidade da República, resolve voltar para Naboo na tentativa de salvar seu povo. Vendo os óbvios riscos nessa atitude, Qin-Gon e Obi-Wan não tiveram outra opção do que acompanhá-la numa tentativa de protegê-la. E Anakin, vocês se perguntam? Logicamente eles deixaram o garoto num lugar seguro, certo? Claro que não! Levaram o guri a tiracolo para uma situação de risco de vida! Que astutos esse jedi…

Chegando em Naboo, Padmé com o “auxílio” de Jar Jar consegue o apoio dos Gungans e partem para a guerra! Jar Jar pelos seus maravilhosos serviços prestados é promovido a general dos Gungans! (Lucas, você realmente forçou muito a amizade, hein?). E vai liderando seus homens para o confronto contra o exército de droids da Federação do Comércio. Enquanto isso, um pequeno grupo, chefiado pelos Jedi e a princesa Amidala, partem para uma perigosa missão na tentativa de se infiltrar na sede de comando da Federação. E Anakin, vocês se perguntam? Eles, como adultos responsáveis que são, levam a pobre criança para essa missão de vida ou morte! (Depois ainda perguntam o porquê que Anakin virou Darth Vader!).

E ai temos mais desculpas para efeitos especiais, para momentos “cômicos” de jar jar binks em plena batalha, e para adultos responsáveis “perderem” o jovem skywalker que vai parar dentro de uma das naves de combate Naboo, indo direto para uma batalha na orbita do planeta contra a nave mãe da Federação do Comércio! Claro que Anakin tem a força do lado dele, e consegue adentrar na nave mãe, destruir o gerador de força e salvar o dia de forma completamente “verossímil”, com direito a gritos e um sorriso no rosto! Pobre R2D2 que ficou o tempo todo em desespero e foi o único verdadeiramente preocupado com o guri!

Sem nem se preocupar por onde andava o pobre Anakin, o grupo de Padmé segue com seu plano, tendo que se separar da dupla jedi, a qual parte para um duelo contra Darth Maul. E, finalmente, faltando 25 MINUTOS para acabar o filme, temos FINALMENTE UM DUELO DECENTE DE SABRE DE LUZ! Presenteando as poucas almas que conseguiram se manter acordadas e lúcidas até esse ponto da história. Infelizmente Qin-Gon vem a ser golpeado mortalmente por Maul. Obi-Wan, pendurado num precipício, consegue chutar todas as regras de luta jedi e vencer o Maul, mesmo ele estando no “High Ground”, com o poder da pirueta e telecinese, usando do sabre de luz de seu mestre desfalecido. Antes de morrer, Qin-Gon, com sua imensa sabedoria, resolve plantar a semente da destruição da Ordem Jedi, fazendo Obi-Wan prometer que treinaria o jovem Skywalker. Yoda, sem opção, consente que Kenobi tome Anakin como seu Padawan. Após o enterro do mestre Qin-Gon, muita festa e alegria em Naboo, comemorando a paz e a República, agora sob controle do Chanceler Palpatine.

Após o fim do filme estava anestesiado, sem acreditar no tamanho da porcaria que eu havia assistido. Decepcionado e com a alma ferida, resolvi ligar para a namorada para afogar as magoas. Mas ela já não estava em casa, a boa sogra me informa que ela havia saido com as amigas para um “show”. Desligo o telefone e sinto aquela pressão da Força na testa… Obrigado, George! Afinal um homem sem a força na testa é um Bantha indefeso…

Avalie a matéria

Pai Fader

Pai fader - Um homem de bem com a vida, cheio de espiritualidade, com uma visão holística sobre esse misterioso mundo pop

Sair da versão mobile