Star Wars – Episódio IX: A Ascensão de Abrams
Atenção: esse review não tem spoilers do roteiro, mas dos personagens que aparecem no filme.
Star Wars – Episódio IX: A Ascensão de Abrams: “Um grande professor, o fracasso é”. E, se tem uma lição que “Os Últimos Jedi” ensinou, é que Star Wars não precisa insultar a inteligência do público para “parecer ousado”.
Há uma linha narrativa que vem sendo puxada, em ambas as direções, desde 1977. Algumas mais bem-sucedidas que as outras, mas nenhuma tão polêmica quanto a de Rian Johnson em seu filme de 2017. As críticas severas pela narrativa desencontrada, soluções apáticas e até mesmo o fracasso do filme de Han Solo, que foi lançado alguns meses depois, foram argumentos de sobra para a Disney recorrer ao homem que colocou Star Wars de volta no topo – não sem uma boa dose de polêmica.
Entre as críticas mais contundentes à volta de JJ Abrams à cadeira de diretor estavam sua “falta de ousadia” e “reverência excessiva” ao material dos filmes originais. Bom, ele apresentou personagens novos (Rey, Finn, Poe, Kylo Ren e BB8), começou o processo de “passagem da tocha” dos personagens clássicos pros novos (com a morte de Han Solo) e se manteve fiel ao que a franquia tinha apresentado até então. Talvez seu único erro tenha sido amar demais – sim, popnauta. Como fã da saga original, Abrams ama esses personagens tanto quanto qualquer um de nós, e não é sem uma série de considerações que ele tira personagens clássicos – ou introduz novos.
Pelo contrário, há uma série de questões de mercado, pesquisas de opinião e uma necessidade premente de entender o público atual e o espírito da época em que vivemos. A trilogia original foi escrita na esteira do escândalo Watergate, ainda sob a sombra do Vietnã, e era natural que os temas principais tratassem de esperança em uma nova ordem política e social. Já a trilogia do Anakin foi desenvolvida sob os anos Bush, em que o poder político era ampliado além dos limites da ética em nome de um bem maior – os fins justificam os meios – especialmente em nome da paz, que Palpatine tanto queria alcançar.
A nova trilogia reflete uma sociedade em constante ebulição, com conflitos de ordem humana eclodindo no turbilhão da polarização, tais como preconceito, direitos humanos, totalitarismo e o extremismo radical. Como qualquer manifestação artística, ela reflete os aspectos da sociedade contemporânea sem se ater, necessariamente, ao panfletarismo ou propaganda. Nossa sociedade, e nosso próprio comportamento, se reflete ali. Às vezes de maneira sutil, outras com a força de um soco.
Dizer que JJ Abrams errou em “Despertar da Força” mostra um desligamento muito grande dos princípios elementares da saga – algo muito semelhante ao que Joe Quesada provocou no período em que foi editor-chefe da Marvel Comics – pois ele precisava não apenas reformular e renovar, mas também mantê-la reconhecível por suas principais características. A grande saga Star Wars sempre foi sobre a família Skywalker – temos uma trilogia focada em Luke e uma em Anakin, mas analisando o panorama mais amplo, temos a história da ascensão, queda e redenção de Anakin Skywalker. Uma nova trilogia teria que, necessariamente, lidar com o seu legado – ou nem deveria se chamar “Star Wars”. São esses elementos que Abrams traz de volta em “Ascensão Skywalker”: a esperança renasce, o legado é preservado e quaisquer elementos alheios a isso, como romances ou humor, são gordura desnecessária que é habilmente limada da cronologia pelo bisturi sempre certeiro do diretor.
JJ Abrams (Star Wars – Episódio IX: A Ascensão de Abrams) trouxe de volta os elementos que fizeram Star Wars ser um marco na indústria cinematográfica – os mesmos elementos pelos quais Lucas foi tão criticado na trilogia do Anakin. Em tempos de extrema polarização, infelizmente, seu trabalho não será apreciado por se manter fiel e respeitoso ao que a história realmente significa, mas sim por não ser “o filme que eu quero”. Mas ele fez isso sem insultar o espectador, sem pegadinhas ou soluções vazias tiradas do nada (como uma espetacular sequência de luta com um Luke Skywalker que… sequer estava lá). Os únicos insultos, na verdade, vêm da parcela da audiência que tinham sua própria percepção de Star Wars: equivocada, vazia e distante do material original.
Trazer o Imperador Palpatine de volta, por exemplo, já nos créditos iniciais, sem se dar ao trabalho de fingir uma surpresa que o público sabia que não existia – afinal, estava desde os trailers – foi um dos acertos. A presença de Ian McDiarmid em cena foi um alento para quem estava cansado do vazio Snoke. Tirar o máximo das cenas de Carrie Fisher foi outro: podiam ter encontrado uma justificativa, podiam tê-la deixado de lado, mas ela se mostrou crucial no desenvolvimento de Rey. Mark Hammil, obviamente, estava lá e trouxe um Luke Skywalker um pouco mais leve, bem humorado até. Em paz. E o que dizer de Harrison Ford, o terceiro pilar desta saga?
Houve muito fan-service sim, e isso não é problema algum. Com cenas que remetem não apenas aos dois episódios anteriores dessa trilogia, mas a diversos elementos da trilogia clássica (como dar uma medalha para Chewbacca, Luke tirar uma X-Wing das águas ou a volta de Lando), a reverência ao passado foi mantida, de forma respeitosa e como se dissesse “olha, é o que vocês queriam”. Ao mesmo tempo, integra novos elementos, como os novos poderes da Força de Rey, o passado de Poe como contrabandista e a frase para Rey que Finn guarda consigo até o final. E Ben Solo? Podia se redimir do crime de parricídio? Como resolver esse abacaxi? Abrams é muito bom com a narrativa, e muito bom em dirigir atores. Nós voltamos a ter empatia, a torcer por cada um deles mesmo que não haja espaço para todos serem “felizes para sempre”. Algumas peças têm que sair.
Se todos os rumores forem verdadeiros, se todas as histórias de problemas internos, regravações, reedições e cortes do filme, o resultado final é praticamente um milagre de boa vontade, em acreditar numa história e nos personagens. Mas não é nada do que os fãs de Star Wars queriam. Os fãs esperavam se encantar com os personagens da mesma forma que aconteceu quando os conheceram – sejam os novos, sejam os da trilogia clássica. E mesmo que uma série de perguntas não tenha sido respondida, Star Wars nunca foi sobre o roteiro: foi sobre os personagens. Sobre Anakin, Luke, Obi-Wan, Leia, Han, Chewbacca, C3PO, R2D2, Yoda – e agora Rey, Finn e Poe – em um desenvolvimento que volta a fazer sentido. E todo o amor dos fãs, sejam eles os que estavam assistindo o filme ou o fã que o dirigiu, todo esse amor foi finalmente correspondido, não no final da exibição, não em sua épica batalha durante o clímax, não na menção a tudo que essa saga de mais de quarenta anos nos ensinou sobre Esperança.
Nosso amor foi correspondido em uma frase:
“I know”.
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