Tales From the Dark Multiverse: Crisis on Infinite Earths
Tales From the Dark Multiverse: Crisis on Infinite Earths: Os “Contos do Multiverso das Trevas” são uma sacada muito legal da DC Comics, mostrando, no formato antologia, uma série de seus maiores eventos – mas com uma reviravolta trevosa! Temos a Queda do Morcego, a Morte do Superman, o Contrato de Judas, Ponto de Ignição… Mas aqui, o misterioso observador conhecido como Tempus Fuginaut – cumprindo uma função idêntica à do Vigia, da Marvel, conforme adiantamos aqui, narra as distorções que essas histórias sofreram e como tudo ficou ainda pior e cataclísmico nessas diferentes versões do Universo DC!
A edição que apresenta a Crise nas Infinitas Terras (Tales From the Dark Multiverse: Crisis on Infinite Earths), por exemplo, termina com os papéis da Terra Ativa e da Terra Paralela trocados – o “nosso” universo é destruído, sobrando somente a versão do universo com heróis mais velhos! O Superman Kal-L, o Lanterna Verde Alan Scott, o Flash Jay Garrick, entre outros, veem o multiverso se alinhar com base em sua realidade, enquanto as outras versões são apagadas e esquecidas. A Liga da Justiça fica com o papel que foi da Sociedade da Justiça no pós-Crise: enfrentar o demônio Surtur na barreira além da nossa dimensão, impedindo que ele venha para a Terra… por toda a Eternidade!
Na cronologia normal da DC Comics, a Sociedade da Justiça cumpriu esse papel por muitos anos enquanto a Liga da Justiça se tornava Internacional. Aqui, conforme Tempus Fuginaut narra a história, vemos a Liga incapaz de deter Surtur, que vem para a nossa nova realidade pós-Crise e deverá enfrentar o All-Star Squadron – uma reunião de todos os heróis desta Terra! Lá estão não só Superman, Flash e Lanterna Verde, mas também a Mulher Maravilha, Nuklon, Pantera, Homem-Hora, Dr Meia Noite, Falcão da Noite, Mulher Falcão, Sr Destino, Shazam, Caçadora, Jade, Starman e até mesmo Johnny Trovoada! Tantos heróis queridos e cativantes se reúnem para enfrentar o demônio – e é aí que a história passa a decepcionar.
Eu venho acompanhando Injustiça 2, que é sempre uma leitura muito frenétyka – a exemplo de sua primeira versão, sempre cheia de plot twists e soluções inusitadas. Nenhum personagem está totalmente a salvo – como se trata de uma versão que não só é fora da cronologia regular como também foi criada pra ser “falha”, os roteiristas Tom Taylor e Brian Buccellato sempre tocaram o terror. Cada edição apresenta algo de único, interessante e surpreendente. Essa versão de Crise nas Infinitas Terras, infelizmente, está em mãos menos competentes: o roteiro de Steve Orlando perde ótimas chances de ir além do lugar-comum e vira uma história de super-heróis muito da meia-boca. E o pior: como se não bastasse ter uma versão do Vigia, essa história termina com outra versão de um herói da Marvel!
Surtur massacra a primeira onda de heróis e os sobreviventes, liderados pelo Superman Kal-L, partem num esforço desesperado para tentar derrotá-lo. Nesse ponto, temos apenas o segundo round de uma luta que repete o que aconteceu no primeiro. Starman e o Flash bolaram um plano, mas não vemos nenhum uso original dos poderes, nenhuma tentativa de sair do comum, nada que justifique essa equipe com apenas 20% do All-Star Squadron achar que pode derrotar Surtur. E o plano bolado pelo Starman e pelo Flash (Jay Garrick, é bom lembrar) falha. O Superman Kal-L? Falha miseravelmente.
Cabe ao Lanterna Verde Alan Scott salvar a Terra – da maneira menos original possível. Ele simplesmente se oferece pra ser arauto de Surtur e ajudá-lo a encontrar outros mundos que ele possa destruir. E Surtur aceita, concedendo uma fração de seu poder e transformando-o no Lanterna Medonho (Dread Lantern).
Não, não. É isso mesmo. A solução encontrada por Steve Orlando foi copiar a origem do Surfista Prateado, numa das mais estúpidas descaracterizações de um personagem já vistas na DC. Não que o Alan Scott mereça algum tipo de dignidade, é um personagem tão relevante pro leitor de hoje quanto o Mandrake ou o Besouro Verde – só presta pro Alex Ross desenhar e saudosistas como Geoff Johns tentarem empurrar goela abaixo do público. Mas pelo menos esses dois não copiavam o que saiu 50 anos atrás pela Marvel.
Pontos positivos? Tem sim. A arte de Mike Perkins é totalmente anacrônica, combinando com uma equipe que não tem mais espaço nos quadrinhos de hoje. Ela destoa totalmente da arte da capa, feita por David Marquez – apesar de seu conceito não se conectar bem com a história. Que diabos o Alan Scott tá segurando ali? Uma espada? Que espada flamejante é essa?
Enfim, se você for ler um gibi DC essa semana, não leia Tales From the Dark Multiverse: Crisis on Infinite Earths. Pro seu bem. É triste perceber que, quem está vivendo num multiverso de trevas, desesperança, medo, horror, desespero e onde tudo dá errado é o leitor da DC.