Um Ano de Popsfera – Como Vim Parar Aqui – (Puyol Miranda)

Um Ano de Popsfera – Como Vim Parar Aqui – (Puyol Miranda): Ao repensar e analisar minha trajetória de vida, percebo que sempre estive envolto de cultura nêrdica, sejam quadrinhos, livros, álbum de figurinhas, música, filmes ou series. E isso foi de suma importância para que eu crescesse em um ambiente saudável e pudesse desenvolver minha imaginação e intelecto da melhor forma possível.

Um Ano de Popsfera – Como Vim Parar Aqui - (Puyol Miranda)
Uma revista do Tio Patinhas sempre comigo

Voltando no tempo, eu lembro de estar sempre com um gibi na mão, mesmo quando não sabia ler. Minha mãe sempre incentivou a leitura em minha vida, então era bem comum eu guardar meus objetos mais queridos em caixas de sapato e deixar debaixo da minha cama. Nessa caixa tinham gibis do Tio Patinhas, Pato Donald, Zé Carioca (não gostava muito), turma da Mônica (aos montes), bonecos do Jaspion e Comandos em Ação, assim como um Mustang preto de controle remoto. Todos eram presentes de viagens que meu pai fazia a trabalho. Eu sempre achei que guardar esses presentes próximos a mim trazia um pouco de segurança e alegria, pois, era a junção de ótimos momentos alegres e fortuitos naquela altura de minha vida.

O tempo passou e precisei lidar com mudanças corriqueiras em minha vida, portanto, em 1990, para atender o sonho da época de uma casa própria, eu e minha família nos mudamos do bairro da Penha no Rio de Janeiro para São Gonçalo. Toda mudança é difícil, principalmente para uma criança de 6 anos, mas meus objetos estavam comigo para me ajudar naquele momento de transição.

Um Ano de Popsfera – Como Vim Parar Aqui - (Puyol Miranda)
Primeiro contato com hqs de super-heróis

Meu primeiro contato com gibi de super-heróis foi achar uma revista na pracinha do apartamento para onde nos mudamos, ela tinha um curioso nome, DC 2000, era publicada pela editora Abril e tinha uma capa realmente muito chamativa, mostrando o Homem Animal correndo e vários animais ao fundo. Ao folhear o quadrinho, não fui muito receptivo, pois tinha me assustado demais com a história de Grant Morrison. Mesmo assim guardei a revista com cuidado em minha caixa. Ainda não tinha interesse nos heróis mas achei legal guardar sem saber o motivo na época.

O melhor comercial de uma saga, reparem no braço do Batman caído no final. GENIAL!

Foi apenas em 1995, ao assistir um comercial, que eu realmente me interessei pelo universo dos quadrinhos de heróis. Era a Queda do Morcego na mais pura vibe anos 90 de tentar chocar os leitores antigos e trazer novos. Bom, ela conseguiu! Corri imediatamente para a banca do Sr. Roberto (uma tradicional e bem fornecida banca perto de minha casa) para ver se tinha algum exemplar de Batman #1. Na banca encontro uma espécie de kit que continha a chamativa primeira edição, com um vilão truculento e forte (Bane) quebrando o Batman, um batarang e a reimpressão de uma edição antiga do homem morcego. Comprei e folheei por tanto tempo aquele gibi até deixá-lo com as pontas dobradas. Tinha se tornando meu gibi favorito. E que belo ano era o de 95, pois iria sair o aguardado Retorno do Superman.

Um Ano de Popsfera – Como Vim Parar Aqui? (Puyol Miranda)
Onde tudo começou pra valer. Reparem no preçinho do gibi. Bons tempos que não voltam

Com o “Retorno” fiquei curioso sobre a “Morte” do super-herói mais famoso do mundo e, graças a uma 2ª impressão da editora Abril, consegui adquirir este incrível item na minha banca favorita, somando com as edições do Retorno do Superman. E dali em diante meu amigo, foi a pura farra de um leitor sendo iniciado nos Comics e se tornando decenauta sem se dar conta. Foi um pulo para acompanhar Crepúsculo Esmeralda (vendo o Lanterna Verde cair ante a loucura com isso introduzir o maior herói desta década, Kyle Rayner), acompanhar a primeira “crise temporal” Zero Hora, todo um pacote anos 90 inseridos em seu cérebro, tal qual o Morpheus fazia com Neo em Matrix. Senti como se tivesse descortinado um universo inteiro e as possibilidades eram infinitas.

Nem tudo foi felicidade no meu amadurecimento e crescimento, e tive de lidar com novas mudanças, em 1998 fui para Bahia e no ano seguinte, quando eu completava 14 anos de idade, descobri estar com uma doença misteriosa e rápida: fui diagnosticado com uma espécie de tumor dentro do músculo da coxa. Foi necessária uma cirurgia, mas durante o procedimento medico, a anestesia “não pegou” e o cirurgião não quis (ou não achou necessário, vai saber) aplicar uma nova anestesia. Passei 1 hora gritando e chorando. Ao sair da mesa de cirurgia, balbuciei palavras aleatórias até perder a fala. Por causa do trauma de presenciar a cirurgia e sentir tudo em carne viva, fui diagnosticado com trauma pós-cirúrgico e por esse motivo eu ficara mudo. Como se não bastasse, por causa dos medicamentos de tarja preta que tomava, tinha crises convulsivas de hora em hora, além de descobrir que o bisturi do médico passou um pouquinho além do que deveria, me deixando com uma lesão parcial no nervo ciático.

A vida não é fácil meu amigo, eu sei disso, por isso me apeguei a 4 coisas que carrego comigo para todo o sempre: Deus, família, amigos e quadrinhos. Durante as sessões de fisioterapia para recuperar o nervo e todo o tratamento psicológico necessário, eu tinha sempre uma edição de Melhores do Mundo, Marvel 99, A Teia do Aranha (a saga do clone estava em início na época, se não me falha a memória) para me fazer companhia e ajudar minha mente se distanciar de tantos problemas. Mesmo mudo e zoado no colégio (era chamado de deficiente e de Shirley – uma personagem da novela Torre de Babel que era manca), recorria aos quadrinhos e a internet como válvula de escape em meio aquele caos todo. Consegui recuperar a fala depois de 8 meses. Depois de mais 4 meses de fisioterapia, voltei a andar. Mas percebi que havia um mundo muito maior, principalmente com a expansão da internet no começo dos anos 2000.

A internet foi fundamental para mim, pois tinha uma gama de sites que conheci nesse início de década, em especial o fórum da Abril. Aliás foi uma época bem interessante, pois surgiam sites que estavam começando a estourar como o Omelete e o Universo HQ. E com isso em mente eu comecei a criar páginas para alimentar meu desejo de estar conectado a esse mundo maravilhoso. Foi então que nessa época que comecei a criar alguns projetos, como o Hangar 21 (de graça no finado HPG), Universo DC Brasil (Geocities) e o Terra Paralela. Mas todas fracassaram, tanto por falta de tempo quanto por, à época, não acreditar que conseguiria fazer algo que fosse de qualidade e informativo.

Nesse meio tempo a galera do fórum da Abril migrou para o MBB (Multiverso Bate Boca) um fórum que tinha como excelência a diversificação de conteúdo, porem um ambiente difícil para muitos. Mas fiz muitos bons amigos lá, com os quais mantenho contato diariamente.

O tempo passou, me formei em Análise de Sistemas, fiz pós-graduação em Segurança de Redes, fiz seminário teológico e, no começo de 2019, recebi um chamado de meu bom amigo Raul Kuk, perguntando se estava interessado em fazer um site com uma galera oriunda do MBB. Aceitei a proposta num estalar de dedos, pois mentalmente eu repassei toda essa história e vi que finalmente poderia voltar a construir meu antigo sonho: Um Ano de Popsfera – Como Vim Parar Aqui – (Puyol Miranda)!

E porque escrevi tudo isso? Porque cá estamos nós, 1 ano depois, cumprindo aquilo a que o destino nos direcionou. Houve momentos ruins, momentos bons, mas tudo foi nos preparando para este momento. Estou muito feliz pelos resultados alcançados, pelas amizades fortalecidas e saber que podemos chegar muito mais longe. Eu creio e espero que você também tenha tanta fé nisso quanto eu. Vamos juntos nessa caminhada que ainda tem muito chão!

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Puyol Miranda

Uma simples testemunha da humanidade, que presencia todos os dias as grandes maravilhas de Deus. Além de presenciar o mais lindo momento de uma etapa de crescimento, me tornar pai. Sou analista de ti, leitor de quadrinhos, decenauta convicto e amante da tecnologia.

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