Um Ano de Popsfera – Como Vim Parar Aqui – (Renan Rennxxx)
Um Ano de Popsfera – Como Vim Parar Aqui – (Renan Rennxxx): ATENÇÃO: Esse texto contém quantidades insanas de nostalgia e ótimas lembranças, portanto se forem alérgico a essas duas substâncias parem POR AQUI!
Se você passou pelo aviso, prepare seu melhor lugar confortável para uma viagem de volta aos anos 90 na cidade de São Paulo, na tão amada Zona Norte, na Freguesia do Ó.
O ano era 1994, um ano de muitas vitórias (É TETRA) e percas (Ayrton Senna) para todos os brasileiros. Ano do Plano Real. Ano do lançamento do Playstation. Um dos anos mais importantes da minha vida.
Naquela época, era normal acordarmos aos domingos, irmos ao mercado fazer a compra do almoço, passar no açougue para comprar carne e ir à banca comprar o jornal do domingo. Em uma época que a TV de tubo ainda tinha bordas de madeira, não havia controle remoto, TV a cabo, internet, serviços de streaming e muito menos computadores (pelo menos na casa da maioria das pessoas que conhecia era assim), a banca de jornal era uma das principais fontes de informação, junto com os telejornais que sinceramente eu achava um saco (nessa época eu tinha 6 anos e gostava de ver desenho, e tinha alguns que passavam na hora de algum jornal na tevê).
E foi ali, na banca de jornal da Av Itaberaba, muito próxima à delegacia 28DP que ganhei o meu primeiro quadrinho, “Senninha” número 1. Minha família sempre foi muito fã do piloto e nada mais apropriado que me presentear com um quadrinho do ídolo que enchia de alegria os brasileiros todos os domingos.
Na época ainda estava aprendendo a ler, embora confesse que isso nunca foi uma grande dificuldade para mim, a vontade de entender o que estava ali escrito nas páginas da revista me deram uma força extra para isso. Minha irmã do meio também era responsável por me ajudar, aos poucos, a fazer com que conseguisse entender a histórias.
Um Ano de Popsfera – Como Vim Parar Aqui – (Renan Rennxxx): Eu sou o filho mais novo de três irmãos, e temos uma grande diferença de idade entre a gente, sendo que do meu irmão mais velho são 15 anos de diferença. Ele foi uma grande influência e também lia quadrinhos, na época ele colecionava Marvel e DC, mas sempre dizia que quando aprendesse a ler ele me deixaria ler os quadrinhos dele se tivesse cuidado. Foi ali que aprendi a ser colecionador também, algo que tenho feito desde então. Tínhamos muitos problemas financeiros como toda família brasileira pós a era do senhor Fernando Collor mas, na nossa proximidade, eu e meus irmãos éramos muito felizes juntos.
Aliás, falando no meu irmão, ele também era fã de games e me recordo do dia que ele chegou com um Super Nintendo em casa. A gente ia para a locadora perto de casa para alugar as fitas, pois tínhamos apenas “Super Street Fighter II” e “Top Gear 2”, dois games que na época eram muito famosos e importantes. Naquela época não se jogava tanto quanto hoje em dia pois só havia uma tevê em cada casa e se dizia que “videogame estragava a televisão”, então a jogatina durava no máximo duas horas, se desligava tudo e só no outro dia a jogatina voltava. Mas as duas horas pareciam segundos pela intensidade dos jogos e de tudo aquilo. Essa é uma lembrança que guardo com muito carinho.
E quando saíamos do videogame a gente começava a ler as revistas da Marvel e DC, embora sempre tivesse a preferência pela Marvel; sempre fui fã de X-Men e todos os seus spin-offs, Homem-Aranha e Quarteto. A gente tinha uma coleção que continha boa parte dos lançamentos da Abril de 1992 até aquela época, e quando peguei fluência li retroativamente tudo isso. Como na época reinavam os formatinhos, era muito fácil de guardar a coleção que ficava em uma caixa de cesta básica.
Além dos quadrinhos e games, a música era algo muito forte na nossa casa. Minha mãe é apaixonada até hoje por música italiana, meu pai gostava de ouvir sertanejo e meus irmãos curtiam rock. Aliás, meu irmão era muito do rock. Ele tinha muitas fitas K7 de bandas de metal e rock, a gente ouvia muito discos como “Chaos A.D.” do Sepultura e “Black Album” do Metallica. Os LPs do Guns ‘n Roses também eram muito executados, me lembro de discos do Aerosmith, Red Hot, Nirvana, Pearl Jam, Ugly Kid Joe, Soundgarden, Alice In Chains, Black Sabbath… mas meus favoritos eram os Ramones e o Bad Religion, e isso comprova muito do meu gosto por música até hoje.
Na nossa casa, era uma gritaria danada quando a gente ouvia as nossas músicas. Minha mãe e pai não gostavam nada, até pelo fato de ouvirmos num volume altíssimo. Hoje ainda sinto saudades das brigas por causa do som alto, que ficava ao ponto de não conseguirmos conversar com alguém a 10 centímetros de distância. Sempre almoçávamos juntos e depois meus irmãos saiam, e eu ficava imerso nas revistas e desenhos na extinta TV Manchete e na TV Cultura.
Hoje infelizmente minha maior influência para ter entrado com tanto amor no mundo da cultura pop não está mais entre nós, meu irmão acabou falecendo esse ano e meu pai há quatro anos atrás, mas deixaram um importante legado na minha vida em todos esses aspectos; pois não foram poucas as vezes que eu ia para a padaria e o troco do pão era usado para comprar alguma revista do Wolverine ou do Aranha, na famosa banca da Av Itaberaba. Ou quando eu ficava doente e minha irmã me levava uma revista fresquinha da Marvel e isso me fazia ficar melhor.
A minha família teve papel importantíssimo para que eu me tornasse um fã incondicional da cultura pop, e essas são lembranças que achei que seria legal compartilhar. Mesmo com o bullying real que os fãs de quadrinhos passavam na época (inclusive até apanhei na escola algumas vezes por isso), era muito confortante saber que em casa era um lar onde a leitura, a música e os games existiam e eram bem vindos.
Ou seja, todas as vezes que penso em cultura pop nos primeiros dias na minha vida, lembro da minha família, mais uma entre tantas que superavam dificuldades e eram felizes em um bairro na cidade de São Paulo. E isso é algo que vai ter sempre um valor incalculável no meu coração.
Felizmente, meus amigos leitores, estou escrevendo em um site que privilegia esse tipo de conteúdo e histórias. E está para completar um ano em que o Popsfera nasceu, um projeto de pessoas especiais falando de coisas especiais. Um portal de conteúdo onde a música underground tem voz, que os fãs de quadrinhos, séries, música e informação têm um canto para chamar de lar. Vida longa ao Popsfera, o site que merece estar onde está e que tem no horizonte um caminho muito importante na vida de tantos fãs de coisas que só a gente entende.
Um grande abraço a todos e parabéns novamente, meu amado Popsfera!!! Obrigado por existir! PMA! O que acharam do depoimento Um Ano de Popsfera – Como Vim Parar Aqui – (Renan Rennxxx)? Deixe seu comentário!