Vingadores de Whedon a irmãos Russo

E houve um dia como nenhum outro, em que os maiores heróis do mundo se viram unidos contra uma ameaça comum. Naquele dia, os Vingadores nasceram… para combater os inimigos que nenhum super-herói poderia enfrentar sozinho! ”

Em 2012, o sonho de cada um de nós que um dia leu a frase acima, finalmente tornou-se realidade. Os maiores heróis da cultura pop finalmente se reuniriam nas telas do cinema. Após seu bem-sucedido início, mostrando a origem – ou a primeira aparição – de seus personagens, era hora da Marvel unir a equipe, apresentando seu primeiro grande filme evento.

Mas se Kevin Feige já mostrava que a Marvel tinha um planejamento incrível (que viria a se torna lendário posteriormente), coube a um homem assumir a imensa responsabilidade de juntar, pela primeira vez, personagens tão distintos e peculiares entre si, mas ainda assim confortáveis aos olhos do público.

E Joss Whedon, o criador de Buffy, a Caça-Vampiros, carregou nos ombros a tarefa de unir o Capitão América, Homem de Ferro, Thor, Viúva Negra, Gavião Arqueiro e Hulk.

Whedon não era um desconhecido do público nerd. Além de Buffy, também tinha criado com sucesso o spin off Angel, o seriado de ficção científica Firefly e seu filme derivado, Serenity – que se tornou um cult entre os fãs.

Whedon escreveu e dirigiu a primeira aventura da maior equipe da Marvel, e fez um trabalho de qualidade impecável. Hoje é fácil olhar para a estrada que a Marvel pavimentou e observar o estrondoso sucesso que Ultimato deve conquistar, mas nos idos de 2012, conseguir reunir personagens distintos, cada um com sua própria estória e background de apoio, introduzir novos integrantes e ainda aprofundar a personalidade e motivações de um vilão, tudo isso enquanto preparava “uma história muito maior” nas entrelinhas, pareceria uma missão impossível.

Mas Whedon conseguiu, e o resultado foi muito expressivo, alcançando inacreditáveis 1.5 Bilhões de dólares de bilheteria ao redor do mundo e, claro, deixando a Marvel cada vez mais à vontade para explorar e desenvolver seu universo de super-heróis.

 Com um resultado como esse, é claro que uma sequência seria óbvia. Mas lembram que eu elogiei o planejamento do Kevin Feige e da Marvel? Ele sabia muito bem o que estava fazendo, e a Marvel Studios já vinha desenvolvendo os seus filmes da chamada Fase 2, entre eles a continuação do Capitao América: O Soldado Invernal, dirigido por dois irmãos até então desconhecidos – Anthony e Joseph Russo.

Quando Soldado Invernal estreou, público e crítica perceberam que estavam assistindo a um filme diferente dentro do gênero de super-heróis. Enquanto mantiveram cada detalhe da chamada “fórmula Marvel”, os Irmãos Russo souberam exploram como ninguém o excelente roteiro baseado na mais aclamada fase do Capitão América nos quadrinhos, em uma trama densa, calcada na espionagem e explorando os poderes do personagem título de uma forma nunca antes vista. O filme arrecadou expressivos 700 milhões de dólares de bilheteria (estamos falando de um filme de personagem, e não de equipe), mas acima de tudo consolidou o talento dos Irmãos Russo e alavancou o carisma de Chris Evans, transformando-o definitivamente em um dos pilares do MCU, ao lado de Robert Downey Jr.

Enquanto isso, Joss Whedon seguia desenvolvendo a continuação dos Vingadores, A ERA DE ULTRON, prometendo trazer para as telonas um dos maiores inimigos de todos os tempos da equipe. Mas o imenso sucesso do filme dos Irmãos Russo parece ter causado uma crise forte de ciúmes em Whedon, pois ele usa parte considerável do roteiro de Era de Ultron simplesmente para desfazer situações criadas pelos Russo.

Em vez de se aprofundar no desenvolvimento do vilão principal, que acabou sendo apresentado quase como um alivio cômico, Whedon criou um romance desnecessário e pouco crível entre a Viúva Negra e Bruce Banner – Ignorando totalmente o background de Banner com a Betty Ross de Jennifer Connely – mas acima de tudo limando totalmente qualquer chance de desenvolvimento entre um possível romance entre Natasha Romanoff e Steve Rogers, explorado com cuidado em Soldado Invernal, o que poderia ter rendido frutos muito mais interessantes. Mas acima de tudo, o filme dos Irmãos Russo foi totalmente construído sob o argumento de que a Hidra tinha se infiltrado na SHIELD desde o início, fazendo com que o Capitão América tivesse que derrubar a agência que tinha se transformado em seu novo lugar, para poder derrotar seus inimigos. A queda dos AeroPortaAviões sobre o Triskelion foi muito representativa, assim como a “morte” de Nick Fury, com direito a referência à Pulp Fiction.

Mas o que Whedon faz no terceiro ato de seu Era de Ultron? Não somente traz de volta um Aero Porta Aviões, mas também traz de volta do exílio Nick Fury, sem maiores explicações (criando um furo que teve que ser explicado posteriormente na série Agentes da Shield).

Mas Era de Ultron ainda teve problemas maiores. Whedon insistiu em utilizar um longo tempo para apresentar a família secreta do Gavião Arqueiro, enquanto Kevin Feige insistia que Thor se aprofundasse na “história maior nas entrelinhas”, deixando claro que o universo era integrado e que havia “alguém” manipulando os elementos, criando uma ameaça maior para assombrar os Vingadores. Nessa queda de braço, quem perdeu foi o espectador, que vindo da imensa expectativa do primeiro Vingadores, saiu um tanto decepcionado com um filme um pouco confuso, com um vilão principal bastante descaracterizado e perdendo um longo tempo com um romance sem sal e uma família na fazenda que simplesmente quebrava o clima do filme.

O resultado foi além do que a Marvel esperava, a bilheteria foi um pouco inferior ao primeiro filme (1.4 Bilhões), mas a reação negativa de público E crítica acenderam um farol amarelo na mesa de Kevin Feige.  

Mas no ano seguinte, os Irmãos Russo voltariam com o terceiro filme do Capitão America, GUERRA CIVIL. E com a moral que tiveram com o Soldado Invernal, puderam brincar com mais personagens dessa vez… E fizeram um filme dos Vingadores, escondido sob o título do Capitão América.

Com maestria, exploraram a relação e os conflitos entre todos os Vingadores, enquanto dedicavam atenção especial a Steve Rogers, Tony Stark e, claro, Bucky Barnes, o Soldado Invernal. Além de trazer cenas de ação cada vez mais espetaculares, os Russo também apresentaram o Pantera Negra e o Homem Aranha, além de introduzir o Barão Zemo, um dos maiores e mais densos vilões do MCU, que conseguiu atingir seu objetivo, fragmentando definitivamente a equipe de heróis e rendendo mais de um bilhão de dólares para os cofrinhos da Marvel.

Com outro sucesso de crítica e público nas mãos, a escolha para Kevin Feige foi bastante simples. Quem melhor para comandar o grandioso projeto de encerramento da Marvel, depois de 21 filmes, mais de 11 bilhões de bilheteria e 47 horas de filmes? Quem te entregou um resultado abaixo do esperado, prejudicado por ciúmes e decisões ruins e que, honestamente, parece não ter entendido totalmente os personagens que tinha a sua disposição, ou quem inovou, evoluiu personagens, trouxe cenas de ação incríveis (as mais memoráveis do estúdio) e que, sobretudo, parecia agregar crítica e público?

O resultado foi o estrondoso sucesso de Guerra Infinita, que ultrapassou a marca dos 2 bilhões de dólares de bilheteria, apresentou um dos maiores vilões não só da Marvel, mas de toda a História do Cinema e abriu caminho para um dos filmes mais esperados de todos os tempos.

A verdade é que devemos MUITO a Joss Whedon, pois foi seu talento e sua visão que abriram caminho para que a Marvel se tornasse o que é hoje, mas acima de tudo, temos que agradecer ao planejamento e a confiança de Kevin Feige e a genialidade dos Irmãos Russo, que perceberam que Tony Stark pode até ser legal, mas que a ALMA dos Vingadores é e sempre será, Steve Rogers J

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Marcio Fury

Escritor, revisor, colecionador e pai nas horas vagas. É o melhor no que faz, mas o que faz não é nada bonito.

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